"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

16 de out. de 2011

SOBRE A DESCONFIANÇA


Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes*
O psicólogo (em especial o psicanalista) é por excelência um sujeito desconfiado, isso por que o método da psicanálise é buscar um sentido que vai além do que é dito, visto e perceptível, buscando um sentido para além do sintoma, um significado para um significante; buscando lutar contra um esquecimento. A psicanálise é uma ferramenta legítima para ajudar a compreender o passado. Nesse sentido, vemos que não só o psicanalista, mas também o historiador é uma espécie de “psicólogo amador”, na medida em que argumenta e faz uma reflexão em lugar de atribuir causa e motivos de forma negligente. Tal posição é defendida por Peter Gay (1989) em sua obra “Freud para historiadores”, na qual defende a tese de que a Psicanálise pode ser aplicada a todos os ramos da pesquisa histórica sem substituir outras abordagens interpretativas.
A “desconfiança” tão necessária ao psicanalista e ao historiador parece uma característica cada vez mais presente na sociedade atual, na qual somos impelidos, cada vez mais cedo e com mais intensidade, a entrar em uma competitividade visando obter o sucesso num mundo cuja lógica do consumo parece ter atravessado o inconsciente, sendo a mercadoria o grande organizador dos laços sociais; logo, o que vemos são pessoas céticas, que dificilmente acreditam que algo ou alguém possa ser genuinamente bom ou bem intencionado. Daí decorre a dificuldade na construção de laços afetivos, tendo em vista que a base de um relacionamento deve-se pautar (ou supostamente deveria) na confiança. Mas as perguntas que ficam são: como confiar em alguém em um mundo que nos faz ver o outro como um concorrente? Estaríamos vivendo o paradoxo de uma “sociedade da solidão”?
Considero, assim como muitos autores, que a cultura se reflete nos processos se subjetivação (fato que demonstra ainda mais a importância da articulação História/Psicanálise). Assim sendo, temos hoje uma “cultura do narcisismo, marcada pela descrença generalizada nos valores tradicionais, e por uma intensa busca do prazer pessoal e do individualismo em detrimento dos ideais coletivos. Esses valores individualistas e competitivos desencadearam uma “crise do sujeito”, a qual se configura como uma crise de ordem simbólica e que corresponde à pulverização das referências que sustentavam a transmissão da lei (ou crise da função paterna), transformando o homem contemporâneo em um “homem sem gravidade”, cujas referências tradicionais (Deus, pátria, família, trabalho e pai) deram lugar a outra referencias optativas para uso privado do freguês.
Há atualmente um apagamento da “dívida simbólica” que leva o sujeito a se ver como totalmente independente dos pais e dos grupos sociais aos quais pertence. E qual a relação desse contexto com a questão da desconfiança?
Ao concebermos a vida como um empreendimento e não mais como uma jornada de riscos, que inclui altos e baixos, acertos e erros; passamos a buscar resultados garantidos (desde os primeiros anos de vida) que possam contribuir para nossa inserção na voraz competição do mercado de trabalho. Assim, o que se vê são pessoas cada vez mais esvaziadas de imaginação, vida interior e capacidade criativa, sendo que os valores estão cada vez mais atravessados pela linguagem da eficiência comercial. Diante disso, somos sujeitos a cada vez mais desconfiar das pessoas e das coisas em um mundo que privilegia o logos e não o mythos, em uma sociedade “desencantada” e dita esclarecida, que se julga livre da influência mítica.
A desconfiança no sentido de buscar algo além do manifesto, inerente à atividade do psicanalista e do historiador, é diferente do medo estéril e do ceticismo que se fazem cada vez mais presentes na atualidade. É algo que nos impulsiona na busca para uma compreensão mais fiel da realidade externa, a qual está intrinsecamente ligada à nossa realidade interna; assim sendo, desconfie das dicotomizações e dualidades, pois não há bem sem mal, logos sem mythos, consciência sem o inconsciente, bem como não há História sem Psicologia.

*Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes é psicólogo e historiador.

Para saber mais:
GAY, Peter. Freud para historiadores. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KEHL, Maria Rita. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002

6 de out. de 2011

VIDA A DOIS: POSSIBILIDADES E DESTINOS


Karla Mariana Fernandes Guimarães*
Olá! Proponho aqui uma reflexão sobre os relacionamentos amorosos. Partirei do pressuposto de que todas as pessoas, inclusive as solitárias, são seres que estão constantemente à procura de convivência. Nós, estudiosos de psicanálise, entendemos que nossas vivências mais primitivas, em especial com as pessoas que nos cuidaram, formam o protótipo para todas as vivências posteriores que viermos a ter.
Aceitando a idéia de que o ser humano percebe o mundo através de “lentes” inconscientes, pode-se pensar que um encontro amoroso é um encontro inconsciente de duas personalidades que procuram uma na outra aspectos que não foram desenvolvidos em si, e vêem a possibilidade de satisfação das demandas emocionais. Como se fosse um ímã para as identificações entre ambos.
Além das identificações, outro mecanismo que entra em cena nesse período é a projeção. O casal projeta um no outro todos os desejos e demandas afetivas, e projeta também o senso crítico, ficando à mercê da paixão aflorada. Neste estado de paixão o casal é capaz de passar dias trancado num quarto vivendo apenas de amor, ou de um chocolatinho e água de vez em quando. Tudo o mais fica num plano secundário. Esse processo é necessário para que aconteçam as uniões amorosas. De que outro modo você se relacionaria com uma pessoa que escuta músicas que você detesta, ou tem hábitos que você julgaria abomináveis se fossem praticados por qualquer outra pessoa do mundo?
Conforme o tempo passa a paixão ameniza, a realidade externa volta a surtir efeito e os pombinhos têm a possibilidade de enxergar um ao outro de maneira mais sensata e isso cria algumas possibilidades: O casal pode separar-se nesse instante. O que quer dizer que as identificações não foram sustentadas. Ótimo, se não deu certo, melhor é acabar logo. Pode acontecer também de o casal, mesmo depois de readquirir o senso crítico, continuar admirando um ao outro e ficar junto, ocorrendo a possibilidade de uma união sólida e saudável. Melhor ainda!
O pré-requisito para uma união sólida e saudável é o estabelecimento de um vínculo afetivo, que compreende a união de aspectos subjetivos entre o casal e modificações subjetivas em ambos durante o relacionamento. Para que esse vínculo se estabeleça cada um do par precisa abrir mão da identidade prévia, dos sentidos pessoais, aceitar as identificações provindas do outro e as identificações criadas pelo próprio vínculo entre eles. Nesse momento é natural surgir um colapso identificatório, que implica no questionamento de certezas, convicções, sonhos e planos prévios de cada um. Por exemplo: o sonho de uma moça em ter vários filhos se chocando com os objetivos de um rapaz que sonha trabalhar e viajar muito antes de ter filhos, isso se os tiver...
Inegavelmente, é comum acontecer de o casal manter-se unido e demasiadamente envolvido em seus conteúdos inconscientes, de modo a estabelecer um conluio inconsciente em que cada um fica responsável por suprir as demandas do outro. Esses não conseguem criar um vínculo afetivo, comungam apenas de um contato.
Quando um do par se cansa de servir de apoio emocional ao outro ou o outro percebe que não está tendo as demandas satisfeitas, iniciam os conflitos. As brigas acontecem e em casais mais doentios, até agressões físicas. Contudo, a separação não acontece. O casal parece viver em sintonia com as lamúrias e ameaças. Um não consegue viver sem o outro mesmo que seja “aos trancos e barrancos”. Se por qualquer motivo, um do par cresce emocionalmente, amadurece, impunham-se duas saídas para eles: ou o outro utiliza seus recursos internos para amadurecer também, ou a separação acontece.
Quando a saída escolhida por este tipo de casais for a separação, ela pode ser considerada um mecanismo utilizado para não ficarem fundidos um com o outro. Claro que é uma defesa fóbica diante da sensação de sufocamento, porém, extremamente saudável. A separação pode ser um convite à realização de luto e reflexão – estados de mente necessários para que cada um possa elaborar coisas mal resolvidas interna e externamente – poder tornar-se disponível a novas projeções e identificações mais saudáveis e estar aberto realmente ao estabelecimento de vínculos afetivos.

* Karla Mariana Fernandes Guimarães é psicóloga (CRP 08/15469)

26 de set. de 2011

DELINQUÊNCIA E PSICOLOGIA: MUITO ALÉM DOS FATOS


Lorena Munhoz da Costa*

A delinquência faz parte de nossas vidas. Desperta sentimentos como raiva, medo, curiosidade e ansiedade. Nos noticiários, ela é a protagonista e está em grande parte das notícias. Discussões como a redução da maioridade penal causam polêmica e dividem a sociedade. Em nossas casas, priorizamos pela segurança, construímos muros altos e adotamos medidas que muitas vezes nos isolam e detém como prisioneiros. O psicólogo, diante dessa realidade, deve ter um olhar crítico e entender esse fenômeno em sua origem e complexidade, contribuindo com uma compreensão além do senso comum que condena o delinquente sem conhecer os reais motivos dos seus atos, logo, propõe medidas insuficientes para a sua “recuperação”.
Melman (1992), um importante psicanalista lacaniano, defende que a delinqüência é um sintoma social e pode, ou melhor, deve ser percebida a partir da análise das relações sociais e, não no âmbito concreto (real), como se o furto, por exemplo, tivesse como motivação essencial a riqueza ou o ganho financeiro. Na verdade, os atos cometidos pelos delinqüentes são quase sempre cobertos por significados, o objeto furtado não é o objeto real, mas o objeto simbólico cuja origem está nas relações do sujeito com o outro.
Na história de vida dos infratores é comum percebermos conflitos relacionados à família, principalmente ao pai, principalmente, a existência de pais reais faltantes quanto à função simbólica de referência fálica para seu filho. A relação do delinqüente com seu objeto se funda na anulação do terceiro paterno, do pai real. Ao cometer o ato infracional, o delinqüente busca inconscientemente (e às vezes conscientemente) comprovar que o pai real é impotente e que nada pode fazer. Para ele, o pai foi faltante nos seus deveres para com ele. Alguma coisa no dever com relação a ele não foi cumprida e sua ação não faz senão responder a esta falta, esta omissão do Outro. A delinqüência se estabelece então, nesse caso, como uma competição (muitas vezes recíproca) para provar quem é o mais culpado, buscando atribuir a responsabilidade da falta (MELMAN, 1992).
O delinqüente não se percebe como um sujeito responsável por si e por seus atos, pelo contrário, atribui com freqüência a responsabilidade de seus atos a terceiros. Nesse sentido, é importante refletir e rever sobre o papel da sociedade nesses casos. Atualmente, utiliza-se um sistema de penalidades e detenções que muitas vezes pode colaborar com a manutenção e validação do processo da delinqüência.
Quando o poder é representado pela polícia dentro das estruturas reais da sociedade, o objeto que conta deixa de ser simbólico para tornar-se nada mais que um objeto real. O pai estará assim privado de todas as suas incidências simbólicas para valer somente em sua realidade e se encontrará desfigurado por representações que serão asseguradas pelas instâncias educativas, policiais ou judiciárias. Poderíamos fazer ainda a observação que certos delinqüentes, não todos, têm o sentimento de se realizarem como sujeitos somente na medida em que estão na prisão, na posição em que são agarrados pelo Outro, nesta apreensão deles mesmos, não mais simbólicos, mas real.
Diante da verificação de que a causa da delinqüência é falta de reconhecimento simbólico do pai (lei), é necessário percebermos “o declínio do Nome-do-Pai” em nossas estruturas sociais que se tornam cada vez mais reais em lugar de simbólicas. A delinquência, hoje, faz parte de nossos costumes e parece ter se tornado o modo mais banal da relação social, logo, configura-se em um sintoma social, do qual a psicologia e as demais ciências sociais devem se preocupar a fim colaborar para uma sociedade mais saudável.

* Lorena Munhoz da Costa é psicóloga (CESUMAR) e pós-graduanda em Psicanálise (NECPAR).

Para saber mais:
MELMAN, Charles. Alcoolismo, delinqüência, toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 1992. (O sexto lobo)

18 de set. de 2011

COMPORTAMENTO DE RISCO EM JOVENS UNIVERSITÁRIOS


Bruna Santa Rosa Rizzieri*; Lara Fernanda Rodrigues Afonso**
O presente artigo faz parte de uma pesquisa quantitativa realizada no ano de 2010 e que buscou identificar os comportamentos de risco mais comuns entre jovens universitários. Os participantes pesquisados foram 20 alunos de ambos os sexos escolhidos aleatoriamente, cursando o 3º ano do curso de Administração no período Noturno com idade variando entre 20 e 25 anos. Para a realização da coleta de dados, fizemos a aplicação de um questionário composto de 30 perguntas, com o objetivo de levantar dados a respeito dos comportamentos de risco mais freqüentes apresentados entre os 20 alunos entrevistados, dentre os quais podemos citar: segurança no trânsito, agressão corporal, tabaco, alcoolismo, drogas, anabolizantes, comportamento sexual; nutrição e suicídio.

VULNERABILIDADE E RISCO
Diversas são as discussões a respeito de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social, contudo é um desafio bastante complexo definir exatamente quem faz parte desta população. O conceito de risco estende-se hoje para variáveis sociais e do comportamento, o que lhe confere maior abrangência. O risco é uma proposição técnica que associa o conceito de vulnerabilidade a probabilidade de dano ou resultado indesejado. Paralelamente surge o conceito de fator protetor, utilizado como mecanismo basicamente de prevenção, mas que pode também visar qualidade de vida. Assim sendo, uma criança será considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorrer conforme o esperado para sua faixa etária e para os parâmetros de sua cultura. Fatores de riscos associados ao desenvolvimento abrangem características individuais ou ambientais, como sexo, habilidades sociais, e genéticas.
           
COMPORTAMENTOS DE RISCO
A expressão comportamento de risco pode ser definida como participação em atividades que possam comprometer a saúde física e mental do adolescente. Muitas dessas condutas podem iniciar apenas pelo caráter exploratório do jovem, assim como pela influência do meio (grupo de iguais, família); entretanto, caso não sejam precocemente identificadas, podem levar à consolidação destas atitudes com significativas conseqüências nos níveis individual, familiar e social.
Para uma avaliação de comportamento de risco na adolescência, é necessário antes de tudo, haver um entendimento da dimensão psicossocial, na qual o jovem está inserido. Vivemos um período de intensa pressão socioeconômica, no qual os adolescentes fazem parte de uma população ativa profissionalmente, muitas vezes com grande parte de contribuição na renda familiar. Por outro lado, a violência intra e extra-familiar tem atingido proporções alarmantes, e os jovens podem ser tanto vítimas como agressores.
            Os resultados observados através da pesquisa realizada com jovens universitários confirmaram alguns aspectos comuns à adolescência, considerada como período do processo de crescimento e desenvolvimento, caracterizados por grandes transformações biopsicossociais, iniciando-se com a puberdade e terminando no final da segunda década da vida. Nesse período (aproximadamente aos vinte anos de idade), encerra-se a adolescência dando lugar a fase adulta, é o momento em que o jovem concretiza suas idéias a respeito de como deve ser seu comportamento. A respeito disso pode-se dizer que é um período de crise vital, no qual o indivíduo necessita reavaliar algumas condições nas quais vivia confortavelmente. Aberastury (1992) considera esse período como um momento por onde o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas, o que ele considera como “síndrome normal da adolescência”.
            Ao mesmo tempo, o fato de estar ingresso na faculdade, induz o adolescente a várias situações: desde a preocupação com sua imagem até suas atitudes perante as pessoas. Devido a essas influências do meio externo, que neste caso é a faculdade, o jovem age por impulso, e pode esquecer-se de seus princípios reais, de modo a se importar somente com a opinião dos outros sobre ele.
            Outro elemento que tem grande participação no contexto dos jovens universitários é o preconceito, abrangendo os mais diversos assuntos, como: estrutura física, sexualidade, e estilo de roupas. Quando se trata de universidade, podem ser encontrados os mais diferentes estilos de pessoas, já que os universitários são na maioria jovens e cada um com seu próprio estilo. Há uma preocupação constante presente no modo de vida da maioria desses jovens, já que dos vinte entrevistados, quatorze alegaram estar insatisfeitos com seu peso corporal.
Por fim, podemos notar que os comportamentos de risco na adolescência envolvem principalmente o uso de drogas, tabaco, álcool e a atividade sexual. A diminuição da incidência de tais comportamentos apresentados pelos jovens universitários está atrelada a elaboração de estratégias, tais como campanhas contra o alcoolismo, drogas e outros assuntos a esses relacionados, realizadas pelos próprios jovens; palestras sobre os problemas enfrentados na idade adulta devido a comportamentos inadequados anteriormente; dramatizações, a fim de conscientizá-los sobre as tragédias que podem pôr em risco não somente a sua própria vida, mas também a vida de outras pessoas.
           
*Bruna Santa Rosa Rizzieri é acadêmica do curso de Psicologia do Cesumar
** Lara Fernanda Rodrigues Afonso é acadêmica do curso de Psicologia do Cesumar

Para saber mais:
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal. Porto Alegre, Artes Médicas, 1981.
CARVAJAL, Guillermo. Tornar-se adolescente: A aventura de uma metamorfose. São Paulo: Cortez, 2001.
LACERDA, Catarina. Adolescência: Problema, mito ou desafio?. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
SAITO, M. Ignes. Adolescência: Prevenção e Risco. São Paulo: Editora Atheneu, 2001.

3 de set. de 2011

SER APRENDIZ


Ms. Cristina Di Benedetto*
 “Viver... e não ter a vergonha de ser feliz... Cantar, e cantar, e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”  (Gonzaguinha)
Quando ouço essa belíssima canção, sempre me pergunto: Porque as pessoas têm tanta dificuldade em ser felizes? A resposta que encontro, é que, na maioria das vezes têm medo de se questionar, de se abrirem ao novo. Têm uma enorme dificuldade em entender que a essência do bem viver e da felicidade está no fato de que devemos ser eternos aprendizes ao longo de nossa jornada por essa vida.                      
Para vivermos de forma a que a satisfação, a motivação, o entusiasmo estejam presentes, precisamos estar sempre dispostos a aprender. Enquanto estivermos apegados ao que somos, e não nos dispusermos a arriscar ao que podemos ser, ficaremos apenas na vontade de... Por isso preciso aprender a ler as contingências e suas possibilidades. Skinner (1969) já dizia “não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja disposto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.
Ser aprendiz é estar disposto a sair da forma pré  moldada em que se é colocado durante o processo de educação e desenvolvimento do que aprendemos. Ser aprendiz é busca a cada dia, em cada oportunidade o resgate da própria individualidade. Ser aprendiz é saber falar NÃO ao que ditam os meios de comunicação imparciais e emburrecedores, que buscam nivelar todas as pessoas a um estilo único. É pensar, e repensar... Não apenas engolir tudo.
Ser aprendiz é ir atrás do que se julga conveniente para si mesmo ( quer que seja na forma de se vestir, do que se comer, e de como se quer amar, de como se quer educar os próprios filhos, do corpo que se ter, etc..., etc..., etc...). Ser aprendiz é acreditar com garra em si mesmo, e quando não estiver sentindo- se satisfeito, ter a coragem de tentar a mudança, buscando ajuda ao sentir que é preciso.
Ser aprendiz é tentar a mudança uma, duas, três, ou quantas vezes forem necessárias. Até sentir-se que se deu mais um passo. Até sentir que se pode dar mais um. Ser aprendiz é ousar chorar, amar, cair, levantar, errar,acertar, terminar ao coisas não terminadas,começar coisas novas.
Se entendermos que, para sermos MESTRES, precisamos estar sempre no caminho do aprendizado e da esperança no que esta por vir, então podemos concordar novamente com Gonzaguinha:
“Eu sei, que a vida devia ser bem melhor e será ...
Mas isso não impede que eu repita; É bonita, é bonita e é bonita...”       
*Cristina Di Benedetto é psicoterapeuta e supervisora clínica comportamental 

11 de ago. de 2011

ESPAÇO DO SABER promove: "PECADO, CULPA E RESPONSABILIDADE"

PECADO, CULPA E RESPONSABILIDADE
Convidada: Dra. Viviana Carola Velasco Martinez

"Trata-se de responder à pergunta de Nietzsche, discutida por Laplanche, se devemos nos responsabilizar pelos nossos desejos. Talvez a lei, com sua função de proibir o que se deseja (Freud, 1912), indique que é a cultura que deverá se responsabilizar pelo desejo humano.”


Data: 01/09/11 (quinta-feira)
Horário: 19h30 (com coffee break)
Local: Edifício Milenium; R.: Arthur Thomas, 785 (salão/térreo)
Investimento:
30,00 (profissionais) – 20,00 (estudantes)

DEPÓSITO
Banco: Itaú    Agência: 6946    Conta: 09585-5/500


Inscrições: Envie para jornalpsicologiaemfoco@hotmail.com os seguintes dados:
Nome completo:_______________________________________________
e-mail: ______________________________  Telefone: (   ) _____-_____
Profissional (  ) Estudante (  )
Anexar comprovante ou identificar o depósito

                                                                 
Obs: O certificado de 4 horas será entregue aos participantes na data do evento.
Vagas limitadas!

8 de ago. de 2011

A INTERFACE PSICANÁLISE/HISTÓRIA NA COMPREENSÃO DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO


Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes*
O psicólogo (em especial o psicanalista) é por excelência um sujeito desconfiado, isso por que o método da psicanálise é buscar um sentido que vai além do que é dito, visto e perceptível, buscando um sentido para além do sintoma, um significado para um significante; buscando lutar contra um esquecimento. A psicanálise é uma ferramenta legítima para ajudar a compreender o passado. Nesse sentido, vemos que não só o psicanalista, mas também o historiador é uma espécie de psicólogo amador, na medida em que argumenta e faz uma reflexão em lugar de atribuir causa e motivos de forma negligente. Tal posição é defendida por Peter Gay (1989) em sua obra “Freud para historiadores”, na qual defende a tese de que a Psicanálise pode ser aplicada a todos os ramos da pesquisa histórica sem substituir outras abordagens interpretativas.
A “desconfiança” tão necessária ao psicanalista e ao historiador parece uma característica cada vez mais presente na sociedade atual, na qual somos impelidos, cada vez mais cedo e com mais intensidade, a entrar em uma competitividade visando obter o sucesso num mundo cuja lógica do consumo parece ter atravessado o inconsciente, sendo a mercadoria o grande organizador dos laços sociais; logo, o que vemos são pessoas céticas, que dificilmente acreditam que algo ou alguém possa ser genuinamente bom ou bem intencionado. Daí decorre a dificuldade na construção de laços afetivos, tendo em vista que a base de um relacionamento deve-se pautar (ou supostamente deveria) na confiança. Mas as perguntas que ficam são: como confiar em alguém em um mundo que nos faz ver o outro como um concorrente? Estaríamos vivendo o paradoxo de uma “sociedade da solidão”?
Considero, assim como muitos autores, que a cultura se reflete nos processos se subjetivação (fato que demonstra ainda mais a importância da articulação História/Psicanálise). Assim sendo, temos hoje uma “cultura do narcisismo, marcada pela descrença generalizada nos valores tradicionais, e por uma intensa busca do prazer pessoal e do individualismo em detrimento dos ideais coletivos. Esses valores individualistas e competitivos desencadearam uma “crise do sujeito”, a qual se configura como uma crise de ordem simbólica e que corresponde à pulverização das referências que sustentavam a transmissão da lei (ou crise da função paterna), transformando o homem contemporâneo em um “homem sem gravidade”, cujas referências tradicionais (Deus, pátria, família, trabalho e pai) deram lugar a outra referencias optativas para uso privado do freguês. Há atualmente um apagamento da “dívida simbólica” que leva o sujeito a se ver como totalmente independente dos pais e dos grupos sociais aos quais pertence. E qual a relação desse contexto com a questão da desconfiança?
Ao concebermos a vida como um empreendimento e não mais como uma jornada de riscos, que inclui altos e baixos, acertos e erros; passamos a buscar resultados garantidos (desde os primeiros anos de vida) que possam contribuir para nossa inserção na voraz competição do mercado de trabalho. Assim, o que se vê são pessoas cada vez mais esvaziadas de imaginação, vida interior e capacidade criativa, sendo que os valores estão cada vez mais atravessados pela linguagem da eficiência comercial. Diante disso, somos sujeitos a cada vez mais desconfiar das pessoas e das coisas em um mundo que privilegia o logos e não o mythos, em uma sociedade “desencantada” e dita esclarecida, que se julga livre da influência mítica.
A desconfiança no sentido de buscar algo além do manifesto, inerente à atividade do psicanalista e do historiador, é diferente do medo estéril e do ceticismo que se fazem cada vez mais presentes na atualidade. É algo que nos impulsiona na busca para uma compreensão mais fiel da realidade externa, a qual está intrinsecamente ligada à nossa realidade interna; assim sendo, desconfie das dicotomizações e dualidades, pois não há bem sem mal, logos sem mythos, consciência sem o inconsciente, bem como não há História sem Psicologia.

*Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes é psicólogo, ex-aluno no Cesumar e historiador, ex-aluno na UEM.
Para saber mais:
GAY, Peter. Freud para historiadores. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KEHL, Maria Rita. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

2 de ago. de 2011

DELINQUÊNCIA E PSICOLOGIA: MUITO ALÉM DOS FATOS

Lorena Munhoz da Costa*
A delinquência faz parte de nossas vidas. Desperta sentimentos como raiva, medo, curiosidade e ansiedade. Nos noticiários, ela é a protagonista e está em grande parte das notícias. Discussões como a redução da maioridade penal causam polêmica e dividem a sociedade. Em nossas casas, priorizamos pela segurança, construímos muros altos e adotamos medidas que muitas vezes nos isolam e detém como prisioneiros. O psicólogo, diante dessa realidade, deve ter um olhar crítico e entender esse fenômeno em sua origem e complexidade, contribuindo com uma compreensão além do senso comum que condena o delinquente sem conhecer os reais motivos dos seus atos, logo, propõe medidas insuficientes para a sua “recuperação”.
Melman (1992), um importante psicanalista lacaniano, defende que a delinqüência é um sintoma social e pode, ou melhor, deve ser percebida a partir da análise das relações sociais e, não no âmbito concreto (real), como se o furto, por exemplo, tivesse como motivação essencial a riqueza ou o ganho financeiro. Na verdade, os atos cometidos pelos delinqüentes são quase sempre cobertos por significados, o objeto furtado não é o objeto real, mas o objeto simbólico cuja origem está nas relações do sujeito com o outro. 
Na história de vida dos infratores é comum percebermos conflitos relacionados à família, principalmente ao pai, principalmente, a existência de pais reais faltantes quanto à função simbólica de referência fálica para seu filho. A relação do delinqüente com seu objeto se funda na anulação do terceiro paterno, do pai real. Ao cometer o ato infracional, o delinqüente busca inconscientemente (e às vezes conscientemente) comprovar que o pai real é impotente e que nada pode fazer. Para ele, o pai foi faltante nos seus deveres para com ele. Alguma coisa no dever com relação a ele não foi cumprida e sua ação não faz senão responder a esta falta, esta omissão do Outro. A delinqüência se estabelece então, nesse caso, como uma competição (muitas vezes recíproca) para provar quem é o mais culpado, buscando atribuir a responsabilidade da falta (MELMAN, 1992).
O delinqüente não se percebe como um sujeito responsável por si e por seus atos, pelo contrário, atribui com freqüência a responsabilidade de seus atos a terceiros. Nesse sentido, é importante refletir e rever sobre o papel da sociedade nesses casos. Atualmente, utiliza-se um sistema de penalidades e detenções que muitas vezes pode colaborar com a manutenção e validação do processo da delinqüência.
Quando o poder é representado pela polícia dentro das estruturas reais da sociedade, o objeto que conta deixa de ser simbólico para tornar-se nada mais que um objeto real. O pai estará assim privado de todas as suas incidências simbólicas para valer somente em sua realidade e se encontrará desfigurado por representações que serão asseguradas pelas instâncias educativas, policiais ou judiciárias. Poderíamos fazer ainda a observação que certos delinqüentes, não todos, têm o sentimento de se realizarem como sujeitos somente na medida em que estão na prisão, na posição em que são agarrados pelo Outro, nesta apreensão deles mesmos, não mais simbólicos, mas real.
Diante da verificação de que a causa da delinqüência é falta de reconhecimento simbólico do pai (lei), é necessário percebermos “o declínio do Nome-do-Pai” em nossas estruturas sociais que se tornam cada vez mais reais em lugar de simbólicas. A delinquência, hoje, faz parte de nossos costumes e parece ter se tornado o modo mais banal da relação social, logo, configura-se em um sintoma social, do qual a psicologia e as demais ciências sociais devem se preocupar a fim colaborar para uma sociedade mais saudável.


* Lorena Munhoz da Costa é psicóloga e ex-aluna no Cesumar.
Para saber mais:
MELMAN, Charles. Alcoolismo, delinqüência, toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 1992. (O sexto lobo)

19 de jul. de 2011

ESPAÇO DO SABER promove: Debate sobre o filme "cisne negro"

APRESENTAÇÃO
É com grande orgulho que o Jornal Psicologia em Foco apresenta uma inovadora proposta para Maringá. O “Espaço do Saber” é um grupo de debates e difusão do conhecimento em Maringá, que oferece acesso a discussões de temas emergentes e relacionados à cultura e sociedade.
Idealizado pelos membros do “Jornal Psicologia em Foco”, o projeto tem como proposta difundir saberes em um ambiente extra-acadêmico, a partir de palestras, filmes e textos.
As palestras e os cursos apresentam o diferencial de serem ministrados em pequenos grupos, para promover a troca de ideias e maior interação entre os participantes e os mestres.

PROGRAMAÇÃO DE JULHO
EXIBIÇÃO E DEBATE DO FILME “CISNE NEGRO”

Convidadas: Gilcinéia dos Santos, Rute Grossi Milani, Rosana Parré, Sandra Diamante.
Data: 28/07/11 (quinta-feira)
Programação: 19h Exibição do filme
                        20h40 Coffee Break
                        21h Debate
Local: Auditório Aspen Trade Center (5°andar)
Investimento: 35,00 (profissionais) – 25,00 (estudantes) – para inscrições até 24/07
                       40,00 (profissionais) – 30,00 (estudantes) para inscrições a partir de 25/07 

DEPÓSITO IDENTIFICADO
Banco: Itaú    Agência: 6946    Conta: 09585-5/500

Inscrições:
Envie para jornalpsicologiaemfoco@hotmail.com os seguintes dados:
Nome completo:           E-mail:              Telefone para contato:
 Profissional (  ) Estudante (  )    Anexar comprovante ou identificar deposito

Obs: O certificado de 4 horas será entregue aos participantes na data do evento.
Vagas limitadas!

17 de jul. de 2011

PSICÓLOGO HOSPITALAR: UM ESPAÇO CONQUISTADO

Soraya Ruiz de Souza Sanches*
Muito tem se falado em ampliar o atendimento psicológico, diversificando a atuação do psicólogo para várias áreas além da clínica tradicional. Uma das áreas que tem ganhado ênfase é a da Psicologia Hospitalar, como ramo da psicologia da saúde. O psicólogo no contexto hospitalar já é uma realidade e a importância de seu trabalho tem sido reconhecida dia a dia. Com certeza não foi fácil conquistar este espaço, mas com a evolução do conceito de saúde que deixa de compreender o individuo de maneira dicotimizada e fragmentada, buscando uma visão biopsicossocial, na qual o indivíduo passa a ser visto de forma totalizante, visando o seu bem estar biopsicossociocultural e não apenas a ausência da doença. Diante disso a psicologia tem avançado em seu campo de atuação e conquistado um espaço cada vez mais solidificado na atuação do psicólogo. Obstáculos foram encontrados e ainda serão, mas a consolidação desta área de atuação assim como a efetivação da inserção do psicólogo em equipes multidisciplinares  auxiliam nesta visão ampla da prática no âmbito da saúde e devem se transformar em projetos que visem atender as necessidades psicossociais da demanda hospitalar.
Mas o que é a psicologia hospitalar e o que faz o psicólogo neste contexto? Segundo Simonetti (2004) “Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. O autor lembra ainda que a psicologia hospitalar não cuida apenas das doenças com causas psíquicas, mas de qualquer doença, que envolvem sempre de alguma forma, aspectos psicológicos, já que o indivíduo que adoece tem sua subjetividade. Para Campos (2010) “ouvir clientes, familiares e profissionais de saúde na busca da compreensão de suas histórias pessoais, de sua forma de pensar, sentir e agir é a estratégia básica de ação do psicólogo (...) que se coloca como intermediador das relações interpessoais”.
Assim, pode-se pensar que o psicólogo, como conhecedor do ser humano, tem também a função de entender os aspectos que envolvem o adoecimento para que possa auxiliar o individuo a atravessar o processo de hospitalização, facilitando este processo, oferecendo uma escuta para que o paciente possa falar da doença ou de qualquer assunto que o angustie. Isso ajuda o mesmo a entender como está sendo a relação do individuo com a doença, que significados este atribuiu à hospitalização e ao tratamento e o que este momento simboliza em sua vida. Compreendendo que o individuo tem sua subjetividade, suas vivências, sua história de vida e que quando é surpreendido pelo adoecimento, produz aspectos psicológicos que muitas vezes não havia parado para refletir, pensar ou até temer.
É diante de uma situação de crise que a pessoa vivencia intensas transformações em sua vida, que tanto podem ser positivas quanto negativas e nesse aspecto o psicólogo pode ajudar o paciente no processo de ressignificação de experiências e na busca para readquirir  o equilíbrio perdido. O adoecimento deve ser avaliado não isoladamente, mas somado ao estresse da mudança de ambiente (hospitalização), às limitações impostas pela doença, pelo constrangimento dos procedimentos invasivos que o paciente vai se submeter, a perda da sua autonomia e privacidade, entre outros aspectos que podem interferir no estado psicológico do indivíduo. Para lidar com os aspectos que o adoecimento impõe e que geram angústia no paciente (sendo esta uma reação diante de alguma ameaça do ego à sua integridade) é que este lança mão de seus mecanismos de defesa, que no contexto hospitalar pode-se perceber a utilização mais freqüente da negação, da fantasia, da projeção, da racionalização e da sublimação.
Para realizar sua função no contexto hospitalar, o psicólogo deve fazer um trabalho que envolve a tríade paciente, família e equipe de saúde, através de projetos de humanização, que é a grande vertente do trabalho do psicólogo, sendo necessário ampliar o olhar para situações que vão além dos sintomas físicos. Para Andreoli (2008) “O novo psicólogo é aquele profissional que se aventura na tarefa da escuta atenta dos vários atores participantes do cuidado e que pretende dar voz àqueles que, por alguma razão, se encontram silenciados e em conflito. Esta tarefa é particularmente importante quando tratamos de trazer ao ambiente e à convivência hospitalares a dimensão humana”.
Em relação à humanização, tais projetos é que vão instrumentar a equipe e a família a lidar com o paciente, acolhendo adequadamente, fornecendo informações necessárias, demonstrando como intervir com pacientes agressivos, quais as fases que envolvem o adoecer (negação, raiva/revolta, barganha, depressão e aceitação), quais os aspectos emocionais mais frequentes do paciente hospitalizado, identificando as dificuldades dos cuidadores, quais os recursos de enfrentamento que o paciente disponibiliza (resiliência), se tem uma rede de apoio favorável, entre outros.
Para ilustrar a importância da atuação do psicólogo na prática, segue fragmentos de um caso atendido no contexto hospitalar durante o período de estágio. M.F., sexo masculino, 62 anos, atendido na UTI após fazer uma hemicolectomia, demonstrava conhecimento da necessidade da retirada de um pedaço de seu intestino há 15 dias (desde o diagnóstico), relatando não apresentar sintomas anteriormente que ao seu ver justificasse o tumor maligno. Ao ser abordado pela psicóloga e perguntado como se sentia respondeu em termos médicos, falando do procedimento e do problema em seu intestino, que segundo “todos” os médicos e familiares que o visitavam diziam estar bem, em boa recuperação.
A psicóloga então insiste em saber como estava não fisicamente, mas sim emocionalmente, após o diagnóstico relâmpago e a intervenção cirúrgica e nesse momento o paciente se expressa com choro. Depois de alguns minutos pede desculpas e diz: “que bom que alguém quer saber como estou me sentindo, eu já havia me esquecido que era uma pessoa com sentimentos, só pensava no meu intestino todos esses dias e acho que me tornei esse pedaço do meu corpo” (sic). A psicóloga pôde então trabalhar seus aspectos emocionais que estavam contidos até o momento, bem como seus medos diante da “perda” da saúde e possíveis transformações que acarretariam em sua vida, que “todos” evitavam falar, inclusive ele.
* Soraya Ruiz de Souza Sanches é psicóloga, ex-aluna do Cesumar.

Para saber mais:
ANDREOLI, Paola Bruno de Araújo. Psicologia no hospital e os caminhos para a assistência na UTI; In : Psicologia e Humanização: assistência aos pacientes graves / Elias Knobel, Paola B. de Araujo Andreoli, Manes R. Erlichman. – São Paulo: Atheneu, 2008.
CAMPOS, Eugênio Paes. Prefácio, In: psicologia hospitalar e da saúde: consolidando práticas e saberes na Residência/ Maria Stella T. Filgueiras, Fernanda D. Rodrigues, Tânia M.S. Benfica (org). – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença / Alfredo Simonetti. – São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.

10 de jul. de 2011

O IDOSO E O SENTIMENTO DE ASILAMENTO

Eliane Pastor de Lima; Gislaine Redivo; Joseane de Andrade; Renata Rodrigues da Silva*
A velhice é o período que tem início na década dos cinquenta anos, após o indivíduo ter vivenciado realizações pessoais, chamadas de maturidade. Em geral somente uma pessoa com mais de setenta anos possui características que podem defini-la como um velho, tais como: o aspecto apergaminhado da pele, a atrofia muscular difusa, a atrofia geral dos órgãos e sentidos, fragilidade óssea, alterações na memória, entre outras (D’ANDREA, 2006).
Envelhecer pressupõe alterações físicas e psicológicas. Ultimamente com os avanços farmacológicos, a melhor qualidade de vida e a maior preocupação com a prevenção de doenças, o envelhecimento está ocorrendo em idade cada vez mais avançada. Mas com o passar dos anos o desgaste é inevitável, sendo essa uma fase em que o ser humano fica mais suscetível a doenças, isto é, adoecem mais e demoram mais tempo para se recuperar.
Embora a velhice venha sendo objeto de estudos e preocupações de vários campos de estudos, este período do desenvolvimento da personalidade está longe de ser compreendido totalmente. Atualmente existe uma tendência em considerar que uma pessoa com sessenta anos já é um incomodo para os mais jovens e se a posição deste idoso for de submissão ou dependência, ela é tratada como se não servisse para mais nada.
O processo de asilamento leva a um distanciamento progressivo entre o idoso e seus familiares, chega às vezes ao abandono. Ao ver-se sozinho no asilo, o idoso queixa-se de solidão, onde além de se recusarem a conversar com seus colegas de asilo, solicitam exclusivamente a atenção dos profissionais ou funcionários da instituição. Contudo, novos vínculos afetivos se formam com o decorrer do tempo de asilamento, passando haver entre eles um sentimento de amizade, solidariedade mútua, compartilhar dores, ansiedades, preocupações e perdas, enfim, sentimentos que agora fazem parte da sua “vida asilar”.
Inicialmente a família visita-o em media três vezes por semana, esse número de visitas vai diminuindo com o tempo, sendo facilmente encontrados casos em que o visitam até duas vezes ao ano. Zimerman (2005) posiciona-se contra as instituições asilares. Segunda a autora servem como “depósitos de idosos”, mas as considera como um mal necessário, usado como resposta às necessidades do mundo atual, além do que se não existissem, idosos sem família não teriam aonde ir.
A autora também considera que a massificação é um tipo de violência contra o velho, pois é o resultado de idéias pré-concebidas e estigmatizante acerca dele, que não leva em consideração a individualidade de cada um, caracterizando todos os velhos como chatos, por exemplo. O que leva a outro tipo de violência contra os idosos, que é não escutá-los, decidindo tudo por eles, desde o tratamento para a saúde até mesmo a roupa que ele vai usar e a aonde vai, sem ao menos perguntar o que ele acha. Essa é mais uma situação que passa despercebida, mas que mexe profundamente com a dignidade do velho.
            Para se inferir aspectos sobre a vida do idoso antes e após o processo de asilamento, realizaram-se entrevistas com três idosos com idades entre 60 e 70 anos, moradores de uma instituição asilar na cidade de Maringá- PR.
Através das entrevistas pode-se perceber que o idoso asilado sofre e desenvolve sentimentos, sejam em relação à vida anterior ao asilamento ou não. Estes idosos queixam-se dos colegas, da falta de atividades relacionadas ao lazer como, bailes e passeios, por exemplo, reclamam da falta de visita dos filhos e dos entes queridos, deixando assim, transparecer uma aparente tristeza e vontade de sair da instituição. O preconceito se caracteriza pela ausência de reflexão crítica acerca de um determinado objeto e suas origens, é decorrente do processo de socialização, não sendo algo inato ao indivíduo, se manifestando nele de forma singular e individual. (CROCHÍK, 2004)
            Dessa forma, o idoso, principalmente aquele asilado, é vítima de preconceito, pois eles próprios se queixam da falta de visitas dos familiares ou de entes queridos. Sentem-se excluídos da sociedade assim como sujeitos estigmatizados, pois tal como estigma é definido na relação social e representa a situação da qual o individuo está inabilitado para sua plena aceitação no meio social sendo usado para evidenciar uma característica que possua se encaixando nele algumas categorias de pessoas tal como, por exemplo, os idosos.
            Acreditam que já não fazem mais parte da sociedade estando marcados pela sua condição física, social e talvez mental, ou seja, se limitando a grupos pessoas com as mesmas características. Acreditam que na medida em que foram envelhecendo foram sendo esquecidos e sendo vistos pela sociedade de forma peculiar e criam mecanismos de defesa apresentam em determinados momentos fantasias, negação da realidade, rejeição numa tentativa de fuga da realidade de isolamento a qual se encontram.

*Eliane Pastor de Lima; Gislaine Redivo; Joseane de Andrade e Renata Rodrigues da Silva são acadêmicas do 5º ano de Psicologia no Cesumar.

Para saber mais:
CROCHÍK, L. Preconceito, indivíduo e sociedade. São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.
D’andrea, F. F. Desenvolvimento da personalidade. 17ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação de identidade deteriorada. São Paulo: LTC, 1988.
NÉRI, A.L. Psicologia do envelhecimento. Campinas: Papirus, 1995
SPINK (org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.
ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto alegre: Artmed, 2005.

3 de jul. de 2011

ESCUTAR O QUE SE OUVE

Diogo Luiz Santana Galline*
À primeira vista, o título acima conduz o despercebido leitor a cogitar um erro gravíssimo de redundância por parte do autor. “Como posso escutar aquilo que não ouço?”, podem questionar. Outros chegarão à filosófica conclusão de que “ouço, logo escuto”. Por fim, alguns dirão que ambos os termos são e sempre serão sinônimos, desviando a conversa para o resultado futebolístico do final de semana e encerrando, de forma drástica, a possível discussão. Embora sejam vistas por muitos como semelhantes, há significantes diferenças entre as duas palavras. Segundo o Dicionário Michaelis, ouvir remete a “dar ouvido às palavras de; perceber pelo sentido do ouvido”, ao passo que escutar refere-se a “prestar atenção para ouvir; dar atenção à; sentir; perceber”. Em suma: enquanto ouvir está ligado às funções auditivas, escutar envolve-se primordialmente com a atenção (e conseqüente compreensão) àquele que nos dirige a palavra.
Um breve caso auxiliará na elucidação dos conceitos. Certa vez, uma mulher retornou aflita de seu trabalho, necessitando dialogar urgentemente com o marido. Ao adentrar em casa, notou o esposo sentado no sofá, lendo seu respectivo jornal. Não demorou muito para iniciar seu desabafo, de forma atropelada e desorganizada. Qual foi a sua surpresa ao ser interpelada pelo marido da forma mais superficial possível, com fáticos “aham”, “que mais” e “certo”, mas sem desgrudar os olhos das páginas esportivas um minuto sequer. Tornando-se ainda mais desesperada, não se agüentou e arrancou o jornal das mãos do homem que, assustado, perguntou: “O que está acontecendo?”. “Acontece que eu estou há quase meia hora lhe falando das idéias malucas de nossa filha, que deseja viajar com o namorado para uma praia deserta, e você continua com essa expressão de que nada está acontecendo. Será que você está me escutando?”. Certamente a resposta para esse caso é “não”, pois ele realmente não escutou o que estava sendo dito. É possível que seu canal auditivo tenha captado as ondas sonoras provindas da voz da esposa, transmitindo o estímulo para o próprio organismo. Todavia, dificilmente tal estímulo transformou-se em alguma mensagem efetiva, afinal, nenhuma atenção foi desprendida pelo sujeito para torná-la consciente.
Pode parecer um exemplo distante, contudo, está mais presente no dia a dia das pessoas do que se imagina. Basta refrescar da memória a última vez que se encontrou com aquele amigo indesejado e pouco quisto, vulgo chato: é bem provável que, em meio a tanto desinteresse em manter a conversa, o interlocutor tenha se utilizado apenas dos ouvidos (quiçá respostas monossilábicas), sem envolver a escuta propriamente dita ou até mesmo, o mínimo de atenção. Outro exemplo dá-se costumeiramente nas salas de aula, em disciplinas que não interessem tanto a determinados alunos. Embora estejam olhando e ouvindo a figura do professor, seus pensamentos encontram-se há milhas de distância.
O movimento de escutar não é tão simples quanto se demonstra ser. Na atual sociedade, valoriza-se a máxima produção em detrimento ao menor tempo possível. Desta forma, pouco tempo é dedicado ao exercício de escuta, uma vez que, na lógica pós-moderna, significa “perda de tempo”. Ao invés de desprender de alguns minutos para dedicá-lo ao entendimento do próximo, prefere-se criar relações objetivas, mas superficiais, nas quais o contato está baseado mais no que cada um tem a dizer, ou seja, um “monologo dirigido”, ao invés de uma formação de diálogo.
Para o profissional da psicologia, a capacidade da escuta faz-se estritamente necessária para o andamento de suas atividades. No que condiz à prática clínica, espera-se que terapeuta e cliente estabeleçam um vínculo de confiança, sabendo-se que só será criado caso exista uma ligação verdadeira entre ambos. Diversos fatores colaboram para essa formação, dentre eles a escuta atenta do psicólogo para o “corajoso” que ali se encontra, expondo fragilidades muitas vezes inimagináveis de serem relatadas para outros ao seu redor. O cliente procura alguém que disponha de dedicação suficiente para compreender suas angústias, que o escute empaticamente e que, diferentemente de muitos, possa enxergar suas dificuldades com respeito e aceitação. Será somente dessa maneira que se conseguirá chegar àquilo que Martin Buber denominou de relação dialógica, isto é, um relacionamento verdadeiro formado por duas pessoas (eu-tu). Ambas encontram-se presentes em sua totalidade, dotadas de comunicação genuína e sem reservas. Desta forma, abrem-se imensas possibilidades de interação humana, promovendo o processo terapêutico autêntico.
             Diante do que foi apresentado, conclui-se a grande importância que o processo da escuta assume na vida dos seres humanos. É preciso ir muito além do simples ato de ouvir. Faz-se necessário, antes de tudo, esforçar-se para estar atento à transmissão do mundo interno daquele que fala, captando assim o valor essencial de sua mensagem. A situação torna-se primordial no que condiz ao psicólogo. É deveras importante realizar um exercício constante de escuta, pois, sem ele, o estabelecimento do contato interpessoal torna-se impossível. O cliente certamente não se sentirá à vontade para trabalhar seus conteúdos, muito menos encontrará espaço propício para o surgimento da awareness¹. Parafraseando o brilhante Rubem Alves: “existem muitos cursos de oratória, mas nunca alguém se preocupou em criar um curso de escutatória”. Está disposto a ser pioneiro nessa arte? “Sintaxe” à vontade!  
1.      Segundo Yontef (1998), awareness é definida como “uma forma de experienciar. É o processo de estar em contato vigilante com o evento de maior importância no campo indivíduo/ambiente, com total suporte sensório-motor, emocional, cognitivo e energético.
* Diogo Luiz Santana Galline é psicólogo e ex-aluno do Cesumar.

Para saber mais:
ALVES, R. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 2010.
BUBER, M. Eu eTu. Tradução. e introdução de Newton Aquiles von Zuben. 5 ed. São Paulo: Centauro, 2001.
JACOB, L. Diálogo na teoria e na prática da Gestalt. The Gestalt journal. Vol XII, N )1: 1979.
HYNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. 2. ed. São Paulo: Summus, 1995.

26 de jun. de 2011

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NA ADOLESCÊNCIA: UM ENFOQUE NA RELAÇÃO MÃE E FILHA

Camila Seron*;
Rute Grossi Milani**
            A organização da identidade é um processo que, como os demais acontecimentos da adolescência, se dá com “turbulências”, com “idas e vindas”, provocando perplexidade em adultos, uma vez que estar com um adolescente significa muitas vezes ser tomado pela confusão que este experimenta em sua mente (ERIKSON, 1998). A evolução de cada indivíduo, segundo Grinberg e Grinberg (1998), é uma série contínua de mudanças, pequenas e grandes, de modo que pela elaboração e assimilação vai se estabelecendo o sentimento de identidade, entretanto a falta de crescimento e de mudança equivale à estagnação psíquica e à esterilidade emocional; ou seja, à morte psíquica.
            Esta pesquisa busca contribuir para o entendimento das influências que a relação entre mãe e filha pode representar para a jovem adolescente. Os dados coletados junto às adolescentes podem instrumentar práticas voltadas à promoção da saúde e psicoterapêuticas em relação à população envolvida. Mães e filhas contribuindo para ampliar a percepção e entendimento sobre o relacionamento entre elas e suas implicações na saúde psíquica da jovem que está se tornando mulher.
            Participaram da pesquisa dez adolescentes do sexo feminino, com idade entre quatorze e dezoito anos, cursando o ensino médio ou o ensino superior, solteiras e residindo com suas mães. Para a coleta dos dados foi utilizado um roteiro de perguntas semi-estruturado, que foi aplicado através de uma entrevista. A categorização dos dados foi baseada na análise de conteúdo proposta por Bardin (1999) e a discussão foi realizada sob o referencial teórico psicanalítico.
Os resultados serão apresentados em três categorias:
1)Desafios enfrentados na construção da identidade feminina na adolescência: mudanças hormonais, mudanças e novos cuidados com o corpo e novas exigências e responsabilidades. Estas mudanças na adolescência são sinais importantes de que a jovem está definitivamente abandonando os anos da infância para tornar-se mulher.
2) Figuras de identificação. A mãe, segundo os relatos das adolescentes estas valorizam a companhia, a ajuda e a confiança na relação materna. Nota-se assim, que a presença materna é de fundamental importância. “Mãe porque está sempre comigo, me ensinou as coisas” (A1). “Minha mãe porque me baseio nela para ser mulher” (A3), “Minha mãe ela que me da segurança, amiga, conto tudo para ela” (A5), “Mãe porque é minha mãe, é tudo, meu primeiro contato, cresci com ela, meu espelho, meu tudo” (A9). As avós: a figura das avós pode ser percebida como referência onde as adolescentes buscam conforto, carinho e atenção, na ausência da mãe. A avó, principalmente a materna, pode ser considerada como uma extensão da própria mãe. As irmãs e as tias são percebidas pelas adolescentes como mulheres amigas e companheiras. Nossa Senhora: a busca de uma identificação positiva, a representação de uma mãe ideal, na tentativa de solução das angústias.
 3) A Relação Materna e Identidade Feminina: a importância da presença, escuta, mediação e similaridade rumo à diferenciação. As adolescentes relataram a necessidade de perceber a mãe próxima delas para compartilhar vivências marcantes e ouvi-las, como por exemplo, a respeito da primeira menstruação, o primeiro beijo, primeiro namorado. A mãe é percebida como um referencial onde a filha pode “revelar os segredos”, o que ajuda a filha adolescente a conhecer seus papéis sociais e a própria feminilidade, pois a mãe tem o papel de ser a mediadora entre a filha e os acontecimentos externos. E quando a relação é permeada por pouco contato físico e verbal, sem intimidade, falta de tempo entre mãe e filha, nota-se pouca aproximação, o que dificulta vínculo entre elas. “Acho que não somos muito amigas, poderíamos ter uma relação mais próxima, mais aberta para falar as coisas” (A2). Mães que buscam incluir-se na vida das adolescentes, participam, conversam, brincam, se preocupam, perguntam sobre os acontecimentos rotineiros, contribuem para uma relação mais próxima. Mãe e filha compartilham de uma relação particular que influencia na maneira da adolescente planejar o seu próprio futuro. É no relacionamento com a mãe que a filha pode identificar-se com os atributos femininos e moldar o que é ser mulher. Aspectos percebidos na identificação da filha com a mãe: “Na cor e no corte de cabelo, não gostamos de salto alto, preferimos tênis, no jeito de limpar a casa e guardar as coisas” (A1), “Ela gosta de comprar bijuterias para combinar com uma determinada roupa e eu também, nós gostamos de gente, de conversar” (A4).
Segundo Corso (2006), “é importante que a filha reconheça elementos de identificação com a mãe. Ser com ela em alguns aspectos, mas como ponto de partida e não de chegada.” Perceber a limitação do modelo materno empurra ao trabalho de buscar referenciais e vivências que ampliam o horizonte da vida da filha. Aspectos observados na adolescente na medida em que esta se diferencia da figura materna, considerando que é através do mecanismo de oposição que a adolescente pode definir-se e colocar os seus próprios objetivos. “No trabalho dizem que já estou pior que minha mãe. Sou mais brava que minha mãe, muito mais organizada. Temos algo em comum também que é ser escritora” (A10).
            Por meio desta pesquisa foi possível compreender que a construção da identidade feminina na adolescência sofre influências da relação entre mãe e filha, pois as jovens procuram na figura da mãe um modelo, do qual com o passar do tempo conseguem se diferenciar, entretanto carregam consigo características essenciais vividas dessa relação. Outro aspecto relevante levantado durante esta pesquisa é o fato de que as avós maternas são consideradas figuras significativas no desenvolvimento da identidade feminina das adolescentes, pois são percebidas como mulheres cuidadoras, acolhedoras e receptivas.
Na amostra estudada observou-se uma tendência das filhas seguirem o modelo da mãe, pois percebem no jeito de ser, nas atitudes e comportamentos da mãe, o que podem se identificar, tornando esta relação mais próxima e favorável para o desenvolvimento da identidade feminina. Ressalta-se, porém, que tais adolescentes apresentavam uma relação predominantemente positiva com suas mães, o que influenciou para os resultados obtidos, mostrando a importância da relação materna. Portanto, sugerem-se novos estudos com adolescentes em situação de vulnerabilidade, com a violência doméstica, a separação dos pais, a doença mental materna e a gravidez precoce, no sentido de elucidar as relações de adversidade no contexto familiar e os processos de construção da identidade feminina.


Para saber mais:
CORSO, D. Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.
ERIKSON, E. O ciclo da vida completo. Porto Alegre: Artmed, 1998.
GRINBERG, L.; GRINBERG, R. Identidade e mudança. Lisboa: Climepsi, 1998.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec – Abrasco, 1999. 


* Camila Seron é psicóloga e ex-aluna do Cesumar.
** Rute Grossi Milani é psicóloga e professora do curso de Psicologia (CESUMAR).