"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

9 de jul. de 2012

REDESCOBRINDO A HISTERIA


Diogo Assunção Valim*
Neste artigo faço um breve resumo de meu Trabalho de Conclusão de Curso de minha pós-graduação em Psicanálise, nele busco revisitar a construção teórica de Freud sobre a histeria.
O momento atual nunca foi tão propicio para a discussão a cerca da histeria. Os Manuais psiquiátricos amplamente utilizados na atualidade como a Classificação Internacional de Doenças, CID – 10 e a DSM IV, retiraram o termo histeria de circulação, substituindo-o por uma terminologia diversificada que se refere a diversos transtornos independentes. Se isto é uma resposta à pressão de laboratórios farmacêuticos poderosos ou se trata de uma sincera crença de que a histeria já não mais existe, não convém abordar aqui. Mas o fato é que nada disso impede a histeria de continuar existindo, acompanhando as nuances de nossa época, revestindo-se de novas roupagens, mas tendo sua estrutura exatamente a mesma da histeria do século passado.(MAURANO, 2010)
      Famosa por ser capaz de manipular o corpo com muita maestria a histeria intrigava a medicina do século XIX, por mais exames que eram feitos em indivíduos histéricos, nada achava-se para explicar seus sintomas físicos que, em sua maioria, consistiam de paralisias em membros específicos ou até mesmo alucinações e amnésias.
    Freud e Breuer, partindo de idéias propostas por Charcot, romperam com a forma tradicional de medicina da época ao propor um tratamento psíquico ao em vez de físico à histeria, com base nisso nasceu o método catártico de Breuer, este método consistia em evocar lembranças relacionadas a etiologia dos sintomas físicos através da hipnose, desta forma ele era capaz de combater os sintomas mais aparentes e superficiais da histeria.
       Freud prosseguiu estudando a patologia e adaptando seu método de acordo com o que descobria, assim, inclusive, nasce a psicanálise. 
        Mas afinal de contas o que exatamente é a histeria? 
                                               “Eu tomaria por histérica, sem hesitação, qualquer pessoa em quem uma 
                                               oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos predominantemente 
                                               ou exclusivamente desprazerosos fosse ela ou não capaz de produzir sintomas
                                               somáticos.” (FREUD, 1905, pag. 37)
     Por mais que sintomas somáticos sejam uma característica forte na histeria, não são essenciais, portanto enganam-se aqueles que pensam que a histeria não mais vigora na atualidade, sem duvida ela já não tem a mesma aparência que tinha no sec XIX, mas é importante ter em mente que esta é uma patologia que afeta a estrutura da personalidade e, em essência, a vida sexual do individuo, antes de afetar seu corpo.
     Dentre os muitos artigos sobre o assunto, teremos aqui, em função do nosso espaço limitado, de resumir a compreensão da histeria em Freud em alguns pontos principais:
                                              “Desde então tenho visto inúmeros casos de histeria, ocupando-me de cada
                                               um por vários dias, semanas ou anos, e em nenhum deles deixei de descobrir
                                               as condições psíquicas postuladas nos Estudos sobre a histeria, ou seja, o
                                               trauma psíquico, o conflito dos afetos e, como acrescentei em publicações
                                               posteriores, a comoção na esfera sexual.” (FREUD, 1905, pag. 34,
                                               grifos meus).
       A histeria então tem sua fundação em um trauma, entende-se trauma como situação ou experiência que evoque demasiadas excitações além da capacidade psíquica do individuo de processar (FENICHEL, 2005). Este trauma é causado por situações que despertam desejos, fantasias ou idéias sexuais em idade onde o individuo não esta pronto para lidar com tais excitações. 
        Como bem sabemos através da psicanálise, existe uma sexualidade na infância que esta diretamente ligada as figuras parentais (complexo de Édipo), sendo assim existe também um desejo em direção a estas figuras. A criança que passa pelo complexo aprende que seus pais estão unidos sexualmente entre si e ela esta de fora desta intima relação, aprende também que seria imoral o inverso dessa situação, o que há força a recalcar seu desejo sensual e a declinar de suas figuras parentais como objetos do desejo erótico. Funda-se o herdeiro do complexo edípico: o superego.
        Este desejo em direção as figuras parentais é normal em toda criança, mas quando ela é colocada em situações onde sua sexualidade infantil é excitada excessivamente, seja pelas fantasias da própria criança quanto pelas situações de abuso sexual (comoção na esfera sexual), a mente é inundada por estímulos que não apenas são difíceis de se processar, mas condenáveis pelo próprio superego do individuo. 
       Convivendo com um desejo e com a proibição do mesmo, a única saída encontrada pelos processos psíquicos é acionar um forte recalcamento para livrar a consciência dos efeitos acusatórios do superego (conflito dos afetos). Desta forma todo o conteúdo das fantasias infantis que uma vez foram utilizadas pela criança para seu prazer, são expulsas da consciência. Cada item que fora ligado a estas fantasias sexuais direcionadas aos pais tem de procurar novos meios de expressão: é o caso do afeto, que procura expressão no corpo e assim causa os sintomas conversivos.
      A partir de sua fundação a estrutura da histeria forma-se como uma defesa em torno do desejo sexual e da imensa carga emotiva que isto desperta, principalmente da culpa, impedida de seguir seu curso normal a pulsão sexual do histérico acaba sendo expressa por outras vias além da do sintoma.
     Com este estudo aprendemos que não se deve apoiar em sintomas superficiais para diagnosticar e tratar transtornos neuróticos, como o próprio Freud coloca em “A psicoterapia da histeria” de 1893, o sintoma histérico puro é complicado de se extrair e pode-se confundir com uma serie de outras patologias, ou até aparecer de forma discreta e passar despercebido. O critério de análise do psicólogo deve sempre ser baseado na estrutura da personalidade, proveniente da resolução edípica.

*Diogo Assunção Valim é psicólogo.
PARA SABER MAIS:
MAURANO, Denise. A histeria: ontem, hoje e sempre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
FREUD, Sigmund. Um caso de Histeria, Tres ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

16 de jun. de 2012

OS IDEAIS FEMININOS DE CONSUMO NA CONTEMPORANEIDADE: A MOBILIZAÇÃO DO PULSIONAL COMO ESTRATÉGIA PUBLICITÁRIA


Joice Rusch*  

       Nesse estudo foram pesquisados os ideais femininos de consumo em busca da “beleza” e “felicidade” veiculadas pela publicidade na sociedade de consumo atual, por meio de uma contextualização histórica do espaço social da feminilidade. A questão se amplia à medida que as estratégias da publicidade mobilizam a pulsão inerente ao indivíduo, levando a mulher a expandir a ânsia pelo consumo de produtos que mantém os ideais de “beleza” e “felicidade” propostos pela cultura. Pensar nas ideologias que sustentam essa dimensão consumista feminina na sociedade contemporânea é um passo para compreender o consumo desenfreado. Para o desenvolvimento da discussão, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico, que fundamentou a análise dos ideais femininos atualmente. Verificaram-se as sutilezas pelas quais a publicidade, ao mobilizar a pulsão, transfere para os produtos comercializáveis investimentos fantasmáticos a fim de manter os ideais femininos na Contemporaneidade. 
O objetivo geral do trabalho foi identificar os ideais femininos de consumo na Contemporaneidade por meio de uma contextualização histórica do papel assumido pela mulher na cultura Ocidental.  Os objetivos específicos foram: compreender a atual ânsia feminina na busca pelo padrão de beleza proposto para ser  “feliz” decorrente da cultura Contemporânea e, identificar que feminilidade é essa dominada pela publicidade, a qual reduz a mulher a um padrão fantasioso, na constante busca pela “beleza” e “felicidade”
Propõe-se que a mobilização do elemento pulsional poderá vir a ser a estratégia publicitária usada para garantir a busca constante por padrões ideais de  “beleza” e “felicidade”. A análise desta problemática visa “abrir questionamentos”, rompendo a concepção “naturalizada” da feminilidade atrelada ao universo dos cosméticos, shoppings, cirurgias plásticas, academias, etc.
Esta pesquisa tem como base a relação indivíduo-sociedade, partindo da visão de que o homem constrói e é construído por meio de suas relações, com a mediação da cultura, o que permite compreender que a sociedade afeta a subjetividade dos indivíduos, mas não a determina.
Para conduzir a investigação utilizou-se da técnica de pesquisa bibliográfica, que conforme Gil (2006) consiste no levantamento de bibliografias de cunho científico, que tenham relação com o objeto de estudo, respaldando posteriormente as análises. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica está no fato de permitir maior exploração do conteúdo pesquisado. Além disso, é uma pesquisa que parte de uma análise qualitativa-interpretativa dos fatos (REY, 2005).
Por meio da contextualização histórica da feminilidade percebe-se mudanças na imagem da mulher, seja na concepção física, cultural, social, política, entre outras. As mulheres escondidas, guardadas, invisíveis, reprimidas, perseguidas através dos séculos passaram a ocupar lugares diferenciados na sociedade contemporânea. A opressão que de forma mascarada se tornou libertação, acarretou para a feminidade outras estratégias de controle, como o surgimento de ideais de consumo, beleza, saúde e jovialidade, apontando o consumismo como outra forma de opressão.
Seria nesse contexto de mudanças que a publicidade se engrenou a desenvolver estratégias para que os produtos pudessem prometer suprir a falta, que na verdade é própria do sujeito e nunca será plenamente satisfeita. Assim, descreve-se a sociedade Contemporânea marcada por subjetividades debilitadas, isto é, afetadas no psiquismo e sem visão crítica em relação às estratégias ideológicas da publicidade, como a competição pelo corpo mais perfeito, a inveja por não se enquadrar ao ideal feminino, a magreza, as correções estéticas, em conseqüência da alienação pela busca de ideais inatingíveis. 
Como estratégia de controle, verifica-se as articulações da publicidade ao criar ideais para favorecer o consumo, colocando a feminilidade como condição de mercadoria, como: as modelos que vendem os produtos e a sua imagem como ideais. A publicidade utiliza a estratégia de mobilizar a pulsão para que o sujeito busque incessantemente a satisfação por meio de produtos que nunca poderão oferecer a satisfação total, pois a satisfação obtida é fantasiosa, passageira, insignificante (BORGES; RODRIGUES, 2000).
     Segundo Valença (2003) as estratégias da publicidade em difundir produtos a todo instante para que seja mantido os ideais femininos, incita no sujeito a falta de opinião crítica sobre o consumo desses produtos. A falta primordial, que constitui o sujeito ajuda a manter o consumo desenfreado, assim, nenhum objeto dá satisfação plena, incitando a busca por algo novo e diferente, com a promessa de satisfação, que não passa de ilusão e fantasia.
Concluímos que uma forma de resistir aos ideais femininos de consumo seria desenvolvendo a capacidade de pensar, refletir e desfetichizar o produto, deparando-se com a condição humana de incapacidade de satisfação plena. Além de refletir sobre esse consumo, é preciso reconhecer e aceitar o próprio desejo, a própria verdade, e não a verdade externa exaltada pelas mercadorias. Esta discussão inicial pretende dar base para novas pesquisas na área da Psicologia, entre outras áreas, na medida em que ajuda a esclarecer a lógica utilizada pela publicidade com o discurso sedutor de idealizar os produtos para a exaltação dos ideais femininos de consumo em busca de “beleza” e “felicidade”, bem como clarifica os riscos ideológicos da publicidade no que tange as relações destrutivas, a competição, a inveja, entorno da mulher enredada na lógica do consumismo. 

* Joice Rusch é psicóloga.

Para saber mais:
BORGES, D.T.B; RODRIGUES, J.F.S.  Imagens femininas e a liberação do desejo: mídia e sexualidade. In: O corpo ainda é pouco: II seminário sobre a contemporaneidade.  Orgs. Sonia T. Lisboa Cabeda; Nadia Virgínia B. Carneiro; Denise Helena P. Laranjeira. Feira de Santana: NUC/UEFS, 2000.
REY, F.G. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learing, 2005.
VALENÇA, C.A.M. A feminilidade em Freud e na contemporaneidade: repercussões e impasses. Recife/março 2003. Disponível em < http://www.unicap.br/tede//tde_arquivos/1/TDE-2006-12-20T145831Z-51/Publico/Maria%20Araujo.pdf > acesso em 20 de março de 2011.

1 de jun. de 2012

PAIS IGUAIS, FILHOS DIFERENTES


Fernanda Rossi*
      Uma das dúvidas mais frequentes dos pais é por que meus filhos são tão diferentes se os criamos iguais? Bem, algumas reflexões se fazem necessárias frente a esta questão. Primeiro, será que os pais são os mesmos sempre? E segundo, é possível ter filhos iguais?
     Com relação ao primeiro ponto vamos analisar: a vida é feita de experiências, a cada nova circunstância aprendizados são tirados e impactos sobre o comportamento, os valores e o jeito de ser podem surgir no cotidiano de cada pessoa. Assim, com o passar dos anos as pessoas mudam, mesmo que de forma leve e suave. A partir desta idéia podemos entender que os pais não são os mesmos para seus filhos, porque entre o nascimento de um e outro, muitas coisas aconteceram e os modificaram. E isto só no aspecto individual, que dirá das outras esferas. Pois os filhos nascem em momentos de vida também diferentes. A vida social, econômica, espiritual e do próprio casal também difere ao longo dos anos. E todas essas circunstâncias influenciam em como os pais criarão seus rebentos. Não há comparação entre a postura de uma mãe com o primeiro filho para com o caçula. Sua calma, paciência, disponibilidade e ansiedades serão outras em cada momento.
    O desenvolvimento de cada indivíduo depende de três fatores, sendo eles os inatos - características de temperamento com as quais nascemos (mais agitados, mais calmos, por exemplo). Mais as características do mundo externo - ambiente, situação sócio-econômica e cultural. Aliados a própria família - valores, ideais, características de personalidade dos pais, forma de se relacionar com o mundo a sua volta, qualidade e estilo de vida do casal, número de filhos e etc. Todos esses fatores se somam e pesam sobre a construção da personalidade de um indivíduo.
      Desta forma, um filho nunca será criado de forma igual a outro. No máximo com critérios semelhantes, mas ainda assim haverá diferenças. Um novo filho, novos pais. Com uma mente e momento de vida diferenciada. 
       Mesmo para filhos gêmeos. Neste caso a diferença reside na afinidade. Cada filho atrai os pais de forma muito única. Com um há maior afinidade, com outro menos. E isso não significa mais ou menos amor. Tem haver com identificação. Há filhos mais parecidos com o pai, o que por vezes pode aproximá-los ou até repeli-los. E isto pode ocorrer tanto da parte do progenitor, quanto da própria criança. Há uma identificação maior ou menor com cada um. Pense na sua família de origem, em quem você era mais ligado, na sua mãe ou no seu pai? Significava que você amava mais a um e menos ao outro, ou apenas que as afinidades eram diferentes? Isso acontece em toda família, alias até na roda de amigos, gostamos de vários, mas com um se tem uma intimidade e facilidade de conversar maior.
     E com situações assim permeando o desenvolvimento não tem como os filhos serem criados iguais. 
   Em segundo lugar, os filhos são díspares porque são pessoas diferentes. Com temperamento, personalidade, gostos, prazeres e forma de entender o mundo, únicas e particulares. Assim, até uma mesma situação é vivenciada por cada pessoa com impactos distintos. Ou seja, numa mesma família as regras, limites, permissões e amor podem ser iguais, entretanto a forma de compreende-las não será a mesma para todos os filhos. Um aceitará bem, outro não, um pode compreender a situação de forma próxima aos pais, outro não e assim por diante.
   Muitas vezes os pais comparam os filhos, destacando tais diferenças. O que traz conseqüências desagradáveis. Ao comparar, se diz que um está certo e o outro errado, os pais tomam partido de um filho e deixam o outro com sentimento de negativa, o que cria mágoa, competição e rivalidades que poderiam não aparecer, ou ao menos em menor intensidade. Pois cada filho, aliás, cada ser humano, é único e não tem como ser / agir como outro. 
      Além do mais, ser diferente é ruim? O que será difícil em aceitar cada um como é? Sem estipular que há um único modelo, um jeito certo de ser. Algo que beira a utopia. Claro que pessoas distintas causam na família como um todo impactos e influencias que nem sempre são fáceis de lidar. Um filho que pensa diferente, age de forma diversa, exige dos pais um comportamento também novo, o que é bastante trabalhoso. Todavia, quando estas diferenças são aceitas, acolhidas e valorizadas, essas crianças podem ser ajudadas a desenvolver o melhor que há em si, deixando em segundo plano os defeitos. Mas quem não os tem? Defeitos precisam afastar ou podem ser aprendidos a tolerar, a amar apesar deles? Um aprendizado que poderão levar para toda a vida e usar em outros relacionamentos, elevando seu amor próprio.  


*Fernanda Rossi é psicóloga clínica de orientação Psicanalítica.

18 de mai. de 2012

CRIATIVIDADE NO MUNDO LÍQUIDO-MODERNO


Natasha C. Southier*
Carolina Laurenti**

       O mundo contemporâneo é marcado por várias transformações, sendo sua principal característica a de questionamento e oposição à lógica da modernidade. Bauman (1997) afirma que esses questionamentos são resultado da busca por estabilidade e as leis imutáveis, priorizando a busca por certezas. Dessa forma, essa busca se tornou inalcançável, e seu alvo considerado alto demais. Assim, a contemporaneidade apresenta o mundo em oposição à modernidade, vendo-o como diverso e mutável, organizando o tempo, o espaço e as relações de uma nova maneira.
         Quanto a nova organização de tempo, este passou a ser organizado no “espaço rápido”, onde as mudanças ocorrem em um ritmo acelerado. Essa aceleração provocou a ênfase em valores instantâneos e descartáveis (HARVEY, 1993), e, devido a essa característica de mudanças rápidas, e de certa forma fluida, a contemporaneidade é também denominada por Bauman de modernidade líquida (BAUMAN, 2007).
         Essa caracterização, modernidade líquida, deve-se principalmente ao caráter volátil da contemporaneidade, que possui por conta disso, valores transitórios. Todas essas mudanças produzem na vida dos indivíduos perda da autoconfiança, dos objetivos, do rumo. A única certeza que se pode ter é que haverá mudanças e mais mudanças, sendo que a flexibilidade é atributo essencial ao indivíduo nessa época.
Bauman (2007) aponta que essa sociedade vive uma síndrome consumista, promovendo a satisfação imediata e a novidade acima da permanência. Entretanto, o consumo na modernidade líquida não é realizado no sentido de acúmulo, mas sim no descarte, sendo o prazer pelo descarte caracterizado como a paixão líquido-moderna. Nessa sociedade, a estabilidade, compromissos irrevogáveis e situações a longo prazo são considerados pesadelo (BAUMAN, 2007).
O mundo líquido-moderno caminha então em busca de mudanças e descarte, busca-se criar o novo e destruir o que é velho, movendo-se em uma destruição criativa. Bauman (1997), no entanto, aponta que a criação aliada à destruição encerra não somente com produtos, mas com modos de vida e com homens que viviam daquela maneira (BAUMAN, 2007).
Assim, diante dessas mudanças na sociedade, busca-se do homem também esse caráter mutável. Exige-se que o homem seja flexível, que se adapte às mudanças e que tragam novas soluções aos problemas que surgem todo momento, ou seja, exige-se indivíduos criativos (ZANELLA, 2002).
            Na sociedade contemporânea, ações criativas podem tão somente ter a função de inserir novas estratégias que ajudem o indivíduo a se adaptar às mudanças desenfreadas do mundo, mantendo no limite o status quo, como também as próprias mudanças que jogam ao “lixo” o que é velho. Parece, então, que a criatividade nessa sociedade toma dois significados: criatividade-adaptação ou criatividade-destruição.
       Mas o que é criatividade? A despeito da importância do tema da criatividade na sociedade contemporânea esse conceito não é bem esclarecido. De acordo com Sakamoto (2000), há uma imensa quantidade de trabalhos a respeito da criatividade, no entanto, muitas lacunas sobre o tema. A criatividade, como um fenômeno mental, é assunto próprio da Psicologia. Sendo assim, diversas abordagens psicológicas se pronunciam sobre o tema, dentre elas, a Análise do Comportamento.
           O Behaviorismo Radical, a filosofia Análise do Comportamento, defende o tratamento do comportamento como objeto de estudo em si mesmo. Isso significa que os fenômenos psicológicos, em toda sua complexidade, devem ser analisados a partir do comportamento, isto é, em termos das relações inextrincáveis entre homem e mundo. Seguindo esse raciocínio, a criatividade, enquanto um fenômeno psicológico, também deve ser entendida em termos comportamentais. Nessa ótica, a criatividade é discutida em termos de comportamento criativo (CUPERTINO; SAMPAIO, s/d).
       Como um comportamento, a criatividade é explicada pelo modelo de explicação do comportamento, a saber, o modelo de Seleção por Consequências. Esse modelo é uma analogia com a teoria da seleção natural de Darwin, e assim como as espécies surgiram de variações ao acaso que foram selecionadas pelas consequências de sobrevivência, a origem do comportamento é semelhante. A lógica parece ser a seguinte: variações que acontecem nas ações, em determinadas circunstâncias, são selecionadas pelas consequências importantes na história de vida do indivíduo (LEÃO; LAURENTI, 2009; SKINNER, 2007).                 Desse modo, a criatividade é entendida como um comportamento resultado da seleção de variações comportamentais; assim, para que ocorra a criatividade é necessária tanto a variação quanto a seleção. Nesse sentido, variações que não são selecionadas não podem ser consideradas comportamentos criativos.
     Ainda sobre a importância da criatividade, Skinner (1972, p. 161) declara que comportamentos criativos podem contribuir para a sobrevivência das culturas, isto é, para o desenvolvimento de ações que não coloquem em risco a vida das culturas. Abib esclarece (2001): promover ações que favoreçam a sobrevivência da cultura é “protegê-la de práticas para ela letais como superpopulação, devastação do meio ambiente, poluição e a possibilidade de holocausto nuclear” (ABIB, 2001, p. 108). Ou seja, a práticas que levem às culturas ao pacifismo (ABIB, 2001). Assim, Skinner (1972) parece aliar a criatividade com a ética.
           Zanella (2004) também concorda que a criatividade deve ser encorajada pela ética. Ela pontua que a busca por sujeitos criativos não deve ser uma busca comprometida com “a lógica excludente”, mas devemos buscar sujeitos criativos que busquem ser comprometidos com o outro, “que acolham as diferenças que nos conotam e possam com elas conviver, que construam relações sociais pautadas em uma ética da e pela vida” (ZANELLA, 2004, p. 137-138).
          Ao voltar à discussão à contemporaneidade, percebemos que a criatividade no mundo líquido-moderno parece ter se apartado das consequências éticas envolvidas em suas práticas.
          Faz-se necessário, portanto, uma reflexão acerca das práticas realizadas, pontuando se nossas práticas psicológicas têm contribuído para a manutenção da lógica vigente ou se propõe à reflexão crítica da realidade.

* Natasha Chaicovski Southier é acadêmica do 4° ano de Psicologia (UEM)
** Carolina Laurenti é psicóloga e Doutora em Filosofia. 

Para saber mais:
ABIB, J. A. D. Teoria moral de Skinner e desenvolvimento humano. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 14,  n. 1, 2001.
BAUMAN, Z. Ética pós-moderna. São Paulo: Paulus, 1997.
HARVEY, D. A experiência do espaço e do tempo. In: A condição pós–modernaUma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1993, p.187-274.
SAKAMOTO, C.K. Criatividade: uma visão integradora. Psicologia: Teoria e Prática, v.2, n.1, p. 50-58, 2000.
ZANELLA, L. C. H. A criatividade nas organizações do conhecimento. In: ANGELONI, Maria Terezinha (Org.). Organizações do conhecimento: infra-estrutura, pessoas e tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002, p.120-136.

4 de mai. de 2012

PENSO ASSIM... "EU... EU MESMA"


Irene Romano Zafalon*

Constantemente somos bombardeados por impressões ilegítimas do mundo, e que vão embaçando, confundindo nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Tem sido difícil sermos autênticos neste mundo alucinado, encontrarmos harmonia, vivermos com "qualidade de vida".
Mas, enfim, o que é ter qualidade de vida? Nunca se falou tanto em qualidade de vida...
Sem apologias, ter qualidade de vida não é apenas praticar atividades físicas todos os dias, comer cereais integrais, tomar dois litros de água, dormir oito horas... ou ainda, ter o carro do ano, casa na praia, o trabalho dos sonhos, “ser magro”, etc. Sem querer questionar, tudo isso pode ser importante (também!), mas é imprescindível buscar, sobretudo, um tempo para a nossa subjetividade, buscar o autoconhecimento, ou seja, encontrar um equilíbrio biopsicossocial.
A nossa qualidade de vida deve ser desenvolvida por nós mesmos, do modo como estamos neste momento e de acordo com nosso nível de necessidades; o que se tem, pregado, basicamente, são modelos estereotipados.             
Cuidar bem de nós mesmos não só implica seguir o manual de bons cuidados com a "máquina", mas compreender como funciona todo o circuito humano, já que não somos meros robôs que podem ser programados. Sofremos emoções a todo o momento que alteram nossos programas e nos causam curtos, surtos.             
Chegamos ao ponto chave! Buscar qualidade de vida é, também, ter acesso às nossas legítimas emoções, para assim, entendermos a carga de afeto que colocamos sobre nossas escolhas e por que muitas de  nossas escolhas nos afligem, são tão difíceis e inatingíveis.
Ter consciência da maneira como atuamos sobre o mundo, nos proporciona sermos nós mesmos, capacitarmos para levar adiante nossos projetos e metas.
 A ciência tem comprovado o quanto somos seres complexos. Não há como encontrar equilíbrio agindo mecanicistamente; somos seres dinâmicos e, assim, na medida em que desenvolvemos nossa capacidade de perceber e compreender nós mesmos e o mundo estaremos promovendo a transformação deste, e, por conseguinte, também sendo transformados por ele.
Quando aprendemos  decidir  integralmente, ou ter autoridade sobre nossas  emoções e reações, o que implica em “autoconhecimento”, este orbe desvairado deixa de ser tão incompreensível e passa  ter contornos  reais e com isso as vivências podem ficar mais leves e saudáveis, pois depositamos nestas mais energia boa que está disponível .
Mas, será mesmo possível ter autoridade sobre nossas emoções, para liberar mais energia boa, promover melhores escolhas e por conseguinte obter uma melhor qualidade de vida?  Cientificamente, a Psicologia tem demonstrado que sim, que, embora o contexto social mude, nossos sentimentos continuam sempre os mesmos, amamos, odiamos, enfim; o mundo evolui e nós podemos e devemos ter a compreensão de nossa  maneira de ser, saber de onde vêm nossos sentimentos e reações, para, assim, podermos atuar efetivamente, de forma integrada à realidade, obtendo escolhas mais assertivas, e, dessa forma , criando um campo mais favorável para transitarmos e sermos felizes com novas  significações, representações e  identificações.

* Irene Romano Zafalon é aluna do 5°ano de Psicologia (CESUMAR).

21 de mar. de 2012

O FENÔMENO BULLYING


Eliane Pastor de Lima,
Gislaine Oliveira Redivo,
Joseane de Andrade e
Renata da Silva Rodrigues.*
O bullying é um fenômeno que vem sendo praticado há muito tempo e é constantemente presenciado principalmente no âmbito escolar e pode resultar em tragédias localizadas nas mais diversas partes do mundo e mais recentemente no Brasil, como vem ocorrendo desde a década de 1990.  
Segundo Fante (2005), bullying é uma palavra de origem inglesa, cuja adoção do termo foi decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Bully, enquanto nome significa valentão e como verbo, brutalizar, amedrontar. Dessa forma a definição de bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotadas por uma ou mais pessoas contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
De acordo com Fante (2005) o fenômeno bullying tem ocorrido principalmente nas escolas. As consequências do bullying afetam todos os envolvidos, mas em especial a vítima, que pode sofrer as consequências em longo prazo, podendo ter prejuízos no âmbito acadêmico, social, além de afetar também a saúde física e mental. A superação dos traumas causados pelo bullying pode acontecer ou não, dependerá das características individuais de cada vítima, de sua habilidade de se relacionar consigo mesma, com o meio social e família.
Segundo Fante (2005), o bullying tem como sua principal característica o ocultismo da vítima, pois ela sente vergonha de admitir que esteja apanhando ou sofrendo gozações na escola e teme o comportamento do agressor. Um dos sinais mais evidentes causadas pelo bullying são a queda do rendimento escolar e a resistência em ir à escola. Os professores devem ficar atentos se a criança apresenta alguns desses sinais, por exemplo: na hora do recreio o aluno fica frequentemente isolado ou sempre por perto de algum adulto; na sala de aula tem dificuldade em falar diante aos demais, demonstrando insegurança ou ansiedade; em jogos de equipe é sempre o último a ser escolhido; sempre está com o aspecto deprimido ou aflito; apresenta desinteresse nas tarefas escolares; apresenta frequentemente feridas, cortes, arranhões ou roupas rasgadas de forma não natural; faltam as aulas com maior freqüência e perde constantemente os seus pertences.
Conforme Fante (2005) é essencial que os pais acompanhem o dia a dia de seus filhos, pois observando, podem detectar os sinais de vitimação, que apresenta como: dores de cabeça, tontura, pouco apetite, dor no estomago, principalmente de manhã; mudança de humor e apresenta explosões de irritação; volta da escola com roupas rasgadas ou sujas e com o material danificado; falta de interesse nas tarefas escolares; desculpas para faltar nas aulas; raramente possui amigos; pede dinheiro com frequência ou furta.
Para identificar o agressor, os professores devem observar seus comportamentos; faz brincadeiras e gozações, coloca apelidos ou chama pelo nome de maneira malsoante, insulta, ridiculariza, faz ameaças, dá ordens, domina, incomoda, intimida, bate, picha, envolve se em discussões, pega os pertences de outros alunos, sem a autorização.
Os pais devem observar os seguintes comportamentos: volta da escola com as roupas amarrotadas e com ar de superioridade; apresenta atitude desafiante e agressiva com os pais e irmãos; tem habilidade para sair se bem de situações difíceis; porta objetos ou dinheiro sem justificar a origem.
Os pais devem observar seus filhos e ficar atento aos seus comportamentos e em caso de suspeita, buscar auxílio, estimulando seus filhos a contar o que ocorre nas escolas, mas não devem tomar nenhuma iniciativa contra o agressor, a não ser comunicar a direção da escola e exigir que busquem informações dos programas que estão sendo desenvolvido na comunidade e em outras escolas para se combater o bullying. Não devem estimular os filhos a revidar os ataques, ao invés disso, devem sugerir que eles evitem o agressor ou busque ajuda de algum adulto que saiba agir nesses casos. Se a escola não apresentar nenhum auxílio, a solução é buscar o conselho tutelar, que de acordo com o estatuto da criança e do adolescente em seu artigo 232, prevê pena para quem “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”. Se o autor for menor que doze anos, o conselho tutelar tem a função de chamar a atenção dos pais e da criança. Se o autor for maior que doze anos, o caso poderá ser levado para a justiça e o juiz decidira se a punição será em advertência ou em prestação de serviço a comunidade. E se o agressor for adulto, a pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. 

* Eliane Pastor de Lima, Gislaine Oliveira Redivo, Joseane de Andrade e Renata da Silva Rodrigues são psicólogas recém graduadas (CESUMAR).

Para saber mais:
FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005
MIDDELTON-MOZ, Jane; ZAWADSLKI, Mary. Bullying: estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2007. 

15 de mar. de 2012

O TRAUMA SOCIAL NA ATUALIDADE


Lorena Munhoz da Costa*
Nikita Nomerz
                No dia 07 de abril de 2011, o Brasil acompanhou mais um trágico acontecimento no país: um rapaz de 23 anos invadiu a escola onde fizera seus estudos básicos, no Rio de Janeiro, e disparou vários tiros em direção a alunos e professores. Após ferir e matar alguns deles, o garoto ao se deparar com a polícia, suicidou-se. A notícia se espalhou rapidamente e como uma epidemia se alastrou pelo país, mobilizando a população. Os sentimentos e as reações foram variados: raiva, medo, angústia, entre outros. A mídia divulgava cada novo detalhe e as imagens do ocorrido repetidamente na programação. Policiais, políticos e profissionais (como psicólogos e psiquiatras) eram convocados a dar explicações sobre a tragédia, ou seja, numa outra linguagem, eram chamados a ajudar a população a dar significados ao ocorrido e, assim, tranqüilizá-la. Até hoje, as marcas persistem na memória daqueles que, direta ou indiretamente, vivenciaram a tragédia.
                Podemos chamar este fenômeno de “trauma social”, isto é, um fenômeno que ocorre em meio a um evento social imprevisível, que provoca no grupo estados de desorganização de maior ou menor intensidade e exige novas práticas em razão do evento; este recebe, pois, dos membros do grupo um significado subjetivo compartilhado (Puget, 2000).
O “trauma social” pode ser compreendido a partir da Teoria da Sedução, proposta inicialmente por Freud (1894/1996) e desenvolvida, posteriormente, por Laplanche (1992), no que este último chamou Teoria da Sedução Generalizada. Para Freud (1894), o trauma se dá em dois tempos. No primeiro tempo, a criança vivencia uma experiência de sedução por parte de um adulto e isso é excitante e, ao mesmo tempo, enigmático para a ela. No segundo tempo, a criança (mais velha), vivencia uma segunda situação que recorda a primeira e a investe de enorme excitação e, assim, se vê diante de uma forte carga de excitações sexuais que excede as defesas do eu, o que resulta em forte angústia. Frente a isso, resta ao eu, como defesa, recalcar a representação (lembrança) excitante.
Protesto
A idéia de trauma social é, de algum modo devedora dessa teoria, na medida em que dá um modelo para pensar eventos sociais de grande intensidade afetiva e os esforços coletivos de elaborá-los. Desse modo, pode-se pensar que o evento traumático é socialmente significativo e mobilizador para o grupo, na medida em que representa uma tentativa de reorganização ou tradução do trauma. Podemos considerar, então, que as tragédias, como essa da escola do Realengo, são traumatizantes, porque despertam na comunidade a angústia que já estava presente na memória proveniente do recalcamento e atuante no psiquismo dos membros do grupo. O trauma social, assim como o trauma individual, atua por meio de recordações e repetições, a fim de alcançar a elaboração. Pensando nisso, Puget (2000) afirma que o trauma social possui um caráter doloroso, mas também representa uma nova chance para a elaboração de conflitos subjetivos. Logo, o trauma social então não consiste apenas no evento traumatizante em si, mas na tentativa de ligá-lo socialmente, através, inclusive, da recordação e por meios e instrumentos coletivos. A história do morticínio de Realengo, enfim, pode ser compreendida como uma oportunidade, para o sujeito, de elaboração do trauma original, isto é, da primeira ferida narcísica, pelas vias do social, num lugar, Rio de Janeiro, em que os traumas se sucedem com extrema freqüência e a população tem que criar formas coletivas cada vez mais efetivas de elaboração (movimentos, protestos, associações de vítimas, etc).


* Lorena Munhoz da Costa é psicóloga (CRP 08/16119).


Para saber mais:
Freud, S. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: uma conferência.  Rio de Janeiro: Imago.
Laplanche, J. (1992).  Novos fundamentos para a psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.
Puget, J. (2000). Traumatismo social: memória social y sentimiento de pertenencia. In: Psicoanálisis APdeBA. Vol. XXII, n. 2.

7 de mar. de 2012

RESPONSABILIDADE E PROXIMIDADE:Considerações acerca dos vínculos na sociedade contemporânea.


Talita Maria Marcomini*

A nossa sociedade contemporânea vem sendo comparada, por vários estudiosos, à Era do Vazio. Mas, o quê seria esse vazio? Ele remete-nos ao vazio do ser, ao ontológico, ao vazio ocorrido na subjetividade existencialista do ser que tantas angústias têm gerado em nossas vidas. A sociedade pós-moderna dominada pelo sentimento de saciedade e consumismo, do ser-se jovem a todo custo, banaliza os relacionamentos afetivos, no que tange ao estabelecimento de vínculos e compromisso. Bauman (2004) refere-se ao mundo moderno como líquido, no qual nada é permanente, tudo que parece sólido se desfaz de forma contínua. Na era do vazio, o homem busca o prazer fugaz e instantâneo, onde o indivíduo busca em si próprio sua satisfação, através de um distanciamento do outro, gerando, assim, um vazio emocional.
Bauman (1998) cita Dostoievski quanto à responsabilidade do ser humano sobre a humanidade: “Somos todos responsáveis por todos os homens perante todos, e eu mais que os outros.” Esse conceito de responsabilidade, aqui, se faz importante, uma vez que, a meu ver, através dele podemos retomar o sentimento de ser humano, e conseqüentemente, vivermos numa sociedade que olha para o outro também, e não apenas para si mesmo. Levinas (apud Bauman, op.cit) coloca que a responsabilidade pelo outro existe “apenas” por ele ser um ser humano. Assim, amplia-se o conceito de responsabilidade, já que atualmente observa-se que se ele não é meu pai ou minha mãe, “então, eu não quero nem saber”. Isso, quando ainda se importa por ser pai e mãe. Um dia, um adolescente me disse que se alguém perdesse a carteira bem em sua frente, ele não a devolveria. Por quê? Porque, segundo ele, ninguém faria isso para ele.
O conceito de responsabilidade, descrito acima, não implica em reciprocidade, ou seja, se é responsável pelo outro sem esperar reciprocidade. “Se o outro olha pra mim, sou responsável por ele, mesmo não tendo assumido responsabilidade para com ele. Minha responsabilidade é a única forma pela qual o outro existe para mim, é o modo da sua presença, da sua proximidade.” (Levinas apud Bauman, op.cit). Atualmente, não se vê esta responsabilidade ou então, acha-se que até se tem responsabilidade pelo outro, enquanto esta implicar em reciprocidade. E hoje em dia, nada mais é feito, sem esperar algo em troca. “Só amo você, porque você me ama”. Isto fica subentendido nos relacionamentos atuais, tudo acontece na base de troca, esperando sempre receber do outro aquilo que lhe foi dado, como se não tivéssemos dado ao outro, e sim como se algo tivesse sido retirado de nós e devesse voltar.
Quando você desumaniza, a partir do momento em que não se considera tal responsabilidade, se perde a ética e isso acarreta conseqüências muito maiores, como por exemplo, o caso do Holocausto. Mas, não precisamos ir tão longe para vermos exemplos. Cada vez mais as pessoas traem seus parceiros afetivos, e a falta de responsabilidade (na concepção utilizada aqui), de compromisso com o outro, propicia esta atitude, levando cada um a não sentir com outro, mas sentir apenas sozinho.
Desta maneira, quando negamos essa responsabilidade, afastamo-nos uns dos outros, e quando me distancio do outro, tudo se torna vazio. Pois acredito, eu, que o ser humano é um ser de relação, e sendo assim, necessita do outro, pois, “para termos amor-próprio precisamos ser amados”. (Bauman, 2004). “Aceitar o preceito de amor ao próximo é o ato de origem da humanidade. [...] Amar o próximo pode exigir um salto de fé. O resultado, porém, é o ato fundador da humanidade. Também é a passagem do instinto de sobrevivência para a moralidade” (Bauman, op.cit, p.99).
* Talita Maria Marcomini é psicóloga (CRP 08/11501)   
Para saber mais:
Bauman, Z. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
Bauman, Z. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

29 de fev. de 2012

FOME DE QUÊ?


 Giordane Andrade de Paula*
A anorexia é um transtorno do comportamento alimentar onde a pessoa limita a sua alimentação, com o propósito de perder peso, devido ao medo de engordar e se tornar obesa a qualquer momento. Existe uma perturbação na percepção do esquema corporal, da auto-percepção da forma e/ou do tamanho do corpo, sendo a recusa alimentar apenas uma conseqüência dessa distorção doentia do esquema corporal.
A anorexia é uma doença e pode ser fatal, o índice de mortalidade varia entre 4% e 30%, levando em consideração a idade de início do quadro, a precocidade do diagnóstico e o tratamento específico e especializado para cada paciente. A anorexia aparece, preferencialmente, em adolescentes e adultos jovens entre 10 e 30 anos de idade. A predominância da anorexia em mulheres é muito significativa, mas em hipótese alguma pode descartar a possibilidade de ocorrência no sexo masculino.
Estudos e pesquisas definem dois tipos de anorexia:
Tipo Restritivo: a perda de peso é conseguida principalmente através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos.
Tipo Compulsão Periódica/Purgativo: episódios de compulsão e/ou purgação (indução de vômito ou uso indevido de laxantes e diuréticos) além das dietas e exercícios.
Pesquisas mostram alguns critérios para o Diagnóstico da Anorexia: perda de peso e recusa em manter o peso dentro do esperado (abaixo de 85% do peso mínimo normal adequado a idade e altura); existe um medo intenso de engordar, mesmo estando abaixo do peso normal; perturbação no modo de vivenciar o peso e forma do corpo, influência indevida do peso sobre auto-avaliação e negação do baixo peso; Amenorréia pos três ciclos menstruais consecutivos. (DSM-IV, 2000)
Para que se desenvolva o transtorno é necessário uma associação de características genéticas, psicológicas, culturais e familiares. Na maioria dos casos, existe um desencadeador do processo como dietas, situações de separação ou alguma perda.
Na sociedade em que vivemos, o corpo que as pessoas tem, que possui sua própria beleza, é desvalorizado quando não está próximo ou igual aos corpos magros e muitas vezes doentes, que são expostos diariamente nas passarelas, televisão, revistas, internet, etc. Assim fica exposta a dificuldade que as pessoas enfrentam para gostar de seus próprios corpos. A alimentação torna-se uma idéia fixa para a pessoa que possui anorexia, o medo de engordar é tão intenso que a pessoa só pensa em comida e em não comer, assim ela cria alguns rituais alimentares que acabam sendo rígidos e agressivos com seu próprio corpo e mente.
A Anorexia apresenta associações com transtorno de humor, transtorno de ansiedade e transtorno com algum tipo de substância química. A identificação das associações é extremamente necessária, para que o tratamento seja adequado a cada pessoa.
As pessoas com anorexia geralmente tem muita informação sobre alimentação, utilizam o corpo e a comida como meio de expressão, geralmente falam sobre calorias, exercícios físicos, forma de partes do corpo, dietas e tudo o mais ligado à corpo e alimento. Porém, quando o assunto está relacionado aos sentimentos, ou às trocas afetivas e relacionamentos em si, as dificuldades começam aparecer.
A anoréxica está tão envolvida com seu corpo e com sua alimentação, que “perdeu” a forma saudável de fazer contato com o meio. As suas relações são superficiais, não existindo um contato genuíno. Inclusive o contato dela com o próprio corpo está disfuncional, já que ela se vê em uma forma não “real”, distorcendo a própria imagem.
A família tem grande importância neste processo, já que é um dos principais meios onde a pessoa está inserida. A pessoa que está com anorexia não pode ser vista apenas como doente, pois o transtorno é apenas uma parte de seu todo que está se manifestando em função de alguma necessidade. Portanto, a relação disfuncional da pessoa que possui anorexia com a comida é apenas um sintoma de um conflito ou sofrimento psíquico maior.
O papel do Psicólogo neste processo não é focado no ganho de peso, nas causas do transtorno e na melhora imediata, mas é de instrumento para que a pessoa comece se conhecer, possa tomar consciência de quem ela é, do que deseja e ser capaz de tomar posse de sua vida, percebendo tanto suas possibilidades quanto as conseqüências de suas escolhas. Com este processo de auto-conhecimento pode se criar uma forma mais saudável de expressão. Quando a pessoa conseguir falar de alegrias, tristezas, medos, ansiedades, angústia, desejos, dúvidas, certezas, amor, ódio e conseguir identificar cada um destes sentimentos, estará encontrando um modo mais funcional e criativo para viver e se relacionar.
Uma das principais atitudes de quem quer ajudar uma pessoa com transtorno alimentar deve ser a aceitação! Independente das explicações e justificativas em relação à origem e manutenção da doença deve-se acolher e aceitar a pessoa como ela é sem julgamentos e interpretações. A aceitação promove uma relação verdadeira e de confiança, proporcionando assim que a pessoa aprenda a estabelecer contatos saudáveis, de forma criativa com o mundo e com ela mesma.
* Giordane Andrade de Paula é Psicóloga (CRP 08/10305)

23 de fev. de 2012

A OPINIÃO DO COACHEE É O QUE IMPORTA.

Renan Freitas*
        O ambiente das Empresas Júnior proporciona incentivos para sempre inovar e atrair tudo o que é novo e aplicável para agregar a gestão da organização. No ano passado, nós realizamos na ADECON um projeto para o desenvolvimento e a implementação do Coaching como ferramenta para auxiliar o desenvolvimento de competências. Essa ferramenta foi formulada para que os próprios diretores a aplicassem em seus subordinados.
O Coaching tem argumentos suficientes para mostrar que é a salvação da sua empresa, embasando o desenvolvimento das pessoas. No entanto, o que é preciso ter em mente é que mais importante do que a iniciativa de implantar a ferramenta, é a aceitação e a disposição que as pessoas precisam ter para mudar e dar continuidade ao processo.
A implantação da ferramenta na empresa não só gerou uma mudança na nossa cultura, mas também tirou as pessoas da sua zona de conforto. Anteriormente nós já desenvolvíamos metas para os resultados da avaliação de desempenho (realizada trimestralmente), mas não havia uma ferramenta como o coaching para atingir os objetivos.
No final do ano passado, os diretores passaram a realizar um acompanhamento mais próximo dos membros da empresa se utilizando da nova ferramenta. O resultado foram sessões concisas no começo, mas com o passar do tempo, a procura diminuiu e no final do ano tal ferramenta não estava mais sendo aplicada. O que se percebeu foi que a ferramenta não tinha a flexibilidade necessária para a nossa cultura organizacional e que precisamos de algo que partisse do coachee, ou seja, que não tivesse sessões fixas com tempos determinados e que ela trouxesse aplicabilidade à rotina da empresa, algo similar ao conceito de líder-coach. Enfim, tornou-se um projeto para ser desenvolvido em 2011.
Por fim, podemos considerar que quando o coaching é aplicado ao ambiente organizacional (assim como qualquer ferramenta da Gestão de Pessoas) ele precisa ter a aceitação das pessoas, pois são elas quem irão executar e receber. O coaching é uma ferramenta que traz ótimos resultados, mas que merece muita atenção para que não caia no esquecimento.

*Renan Freitas é aluno de Administração e membro da ADECON Junior Consultoria.
Para saber mais:
“O Líder-Coach, Líderes criando líderes” do autor Rhandy Di Stefano.    

15 de fev. de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE A VERDADEIRA BELEZA

Fernanda Rossi*
Refletir sobre a beleza é um campo bastante amplo, pois há beleza em tudo: na natureza, nos animais, nos homens, na arquitetura, na ciência, na literatura e assim por diante. Esta reflexão se centrará na beleza humana. O que também não é tarefa fácil, tendo em vista, que se precisa levar em conta que a beleza depende de aspectos sociais, históricos, culturais e individuais. E está relacionado tanto a questões físicas quanto psicológicas. Mas então o que faz uma pessoa ser bela? Pode ir alem do físico, ou acaba nele?
No aspecto social a beleza está ligada a um padrão aceitável a uma época, houve o belo como do obeso tão bem retratado nas pinturas de Botticelli, ou do corpo musculoso como das esculturas de Da Vinci, até chegar na magreza da moda tão bem representada por Kate Moss. Assim o conceito de beleza foi e irá se modificando ao longo da história. Havendo em cada época um modelo fortemente definido.
O que faz parte do aspecto histórico, que é fortemente determinado pelas questões econômicas. Aonde, contraditoriamente, a oferta de alimento vai à contra mão das formas corporais valorizadas. Quer dizer, em épocas nas quais há pouca oferta de alimentos, a imagem feminina acima do peso é que indica poder, enquanto que nos períodos de abundancia de comida, como atualmente, o ser magro é o representante tanto de autodisciplina quanto sucesso (Liveira e Hutz, 2010).
Alem do fato da beleza como diferença da maioria. Quando o imperativo de uma época era o trabalho braçal que gasta muita energia, ser obeso e de pele alva era o representante maior da superioridade e realeza. Com o advento da percepção de que a obesidade é perigosa para a saúde, ser magro se tornou o alvo da riqueza. Pois no século XX, com as pesquisas científicas a obesidade foi percebida como doença, classificada até mesmo pela Organização Mundial da Saúde. E estar magro significa pagar um preço por isso, que vão desde os cuidados com alimentação, passando pelos exercícios físicos até as cirurgias plásticas (Freitas, Lima, Costa e Lucena Filho, 2010). Algo nem um pouco barato.
Há também a beleza cultural, no Japão, por exemplo, a pele bem clara é considerada a mais bonita, enquanto que aqui no Brasil é a pele bronzeada considerado o desejado. No Oriente, a Índia como representante maior, a maquiagem forte e bem marcada é o ápice do belo. Enquanto que na Europa a maquiagem discreta é considerada o ideal. Desta forma, dependendo de cada região a beleza e a forma de destacá-la também serão diferentes.
Quanto mais então no aspecto individual. Entra-se na idéia de que a “beleza depende dos olhos de quem vê”. O que é muito único para cada um. Há de se levar em conta que de acordo com a biologia evolutiva a beleza é resultado da união de simetria, harmonia e unidade, assim o belo é entendido por todos como sendo belo (Macedo e Sandoval, 2011). Como por exemplo, a imagem da rainha egípcia Nefertiti é, mesmo depois de 3000 anos, considerada ainda lindíssima. Então, o belo pode ser definido como igualmente admirado por todos. Contudo, uma pessoa pode se interessar e achar belíssima uma mulher que outra pessoa não acharia. Ou seja, há o belo considerado socialmente como real, e o belo que se destaca individualmente para cada um.
O que indica que a beleza vai além do constructo social. Há nele questões psicológicas do que cada pessoa desperta em nós, que podem ser os traços do rosto, o tipo de corpo, o olhar, o jeito de caminhar, o estilo, enfim, detalhes que fazem toda a diferença.
Por este aspecto a beleza deixa de ser apenas física para tornar-se parte da existência de cada um. Algo que se têm muito mais possibilidades de esculpir. Pois leva em conta outros atributos tais como a história de vida de cada um, a educação, a cultura, a auto-estima, o jeito de ver a vida, o estilo, os cuidados consigo mesmo, enfim, uma variedade tão grande que torna cada um tão único e belo ao seu modo.

Num mundo tão voltado para o externo, pensar em beleza dentro desta visão pode parecer um contra-senso, mas quem sabe seja o único modo possível de encontrar satisfação. Pois o padrão de beleza vigente tem cobrado um alto preço principalmente das mulheres. Transtornos alimentares como bulimia e anorexia acontecendo cada vez mais cedo. Crianças mais preocupadas com o corpo do que o brincar (Oliveira e Hutz, 2010). O envelhecimento visto como negativo, inadequado, indesejado e que deve a todo custo ser evitado (Moreira e Nogueira, 2008). Como se isso fosse possível!
O tempo é implacável, ele chega e não pede licença! Por mais belo que o corpo seja, se a mente não for saudável não é suficiente para manter a chama de um relacionamento amoroso vivo, laços familiares reais e amizades duradouras.
Os aspectos psicológicos são os únicos que nos acompanham durante toda a vida e ao contrário do físico este pode ficar mais belo com o passar do tempo.
Como influenciá-lo então?
Primeiramente olhando para sua auto-estima. Auto-estima é o juízo de valor que um indivíduo tem de si mesmo. Sua construção se inicia na mais tenra idade e influencia por toda a vida o relacionamento consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. Diante de desafios é este atributo emocional que possibilita confiança, força e determinação ou o contrário de tudo isto.
Uma avaliação rápida da auto-estima pode ser feito com o tentar descrever 10 características suas positivas e dez negativas. Normalmente se esbarra em não saber o que escrever, principalmente nas positivas. É tão fácil e rápido se julgar, enxergar os defeitos. Até mesmo quando se recebe um elogio, poucas pessoas agradecem, a maior parte junto com o agradecimento vem uma justificativa. Por exemplo, ao elogio de “que linda sua blusa” vem a resposta “paguei tão barato” ou “é tão velha” e assim por diante.
O fortalecimento deste atributo está relacionado ao autoconhecimento. A saber, quem você é, do que é capaz, quais suas limitações e poder gostar de si neste completo. É ser tolerante consigo mesmo, se aceitar como é. Não significa fechar os olhos para os defeitos, mas se perdoar quando cometê-los. É sair da roda-viva de exigências e cobranças que o mundo faz – cuide da casa, dos filhos, do conjugue, da carreira, dos amigos, do corpo e esteja feliz o tempo todo – para entrar na realidade de que não é possível fazer tudo isto. Há que escolher o que é prioritário e nisto focar, deixar o restante para segundo plano e fazer no seu ritmo, no seu tempo. Ao colocar os compromissos nesta dimensão fica possível encontrar o prazer de viver. Pois os comportamentos deixam de ser mecânicos e necessários, para se tornarem escolhas.
* Fernanda Rossi é psicóloga clínica de orientação Psicanalítica, formada na primeira turma de psicologia do CESUMAR. Especialista em Psicologia Clínica, mestre em Psicologia da Saúde (UMESP-SP), e com formação em observação de bebês pelo IPPIA.  

Para saber mais:
FREITAS, Clara Maria Silveira Monteiro de; LIMA, Ricardo Bezerra Torres; COSTA, António Silva e  LUCENA FILHO, Ademar. O padrão de beleza corporal sobre o corpo feminino mediante o IMC. Rev. bras. educ. fís. esporte (Impr.) [online]. 2010, vol.24, n.3, pp. 389-404. ISSN 1807-5509.
LIVEIRA, Leticia Langlois  e  HUTZ, Claúdio Simon. Transtornos alimentareso papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicol. estud. [online]. 2010, vol.15, n.3, pp. 575-582. ISSN 1413-7372.
MOREIRA, Virgínia  e  NOGUEIRA, Fernanda Nícia Nunes. Do indesejável ao inevitávela experiência vivida do estigma de envelhecer na contemporaneidade. Psicol. USP [online]. 2008, vol.19, n.1, pp. 59-79. ISSN 0103-6564.
MACEDO, Daniela e Sandoval, Gabriella. O QI da beleza. Revista veja. 12 de janeiro, 2011. Pg 79-85.