Fernanda Rossi*
Refletir
sobre a beleza é um campo bastante amplo, pois há beleza em tudo: na natureza,
nos animais, nos homens, na arquitetura, na ciência, na literatura e assim por
diante. Esta reflexão se centrará na beleza humana. O que também não é tarefa
fácil, tendo em vista, que se precisa levar em conta que a beleza depende de
aspectos sociais, históricos, culturais e individuais. E está relacionado tanto
a questões físicas quanto psicológicas. Mas então o que faz uma pessoa ser
bela? Pode ir alem do físico, ou acaba nele?
No
aspecto social a beleza está ligada a um padrão aceitável a uma época, houve o
belo como do obeso tão bem retratado nas pinturas de Botticelli, ou do corpo
musculoso como das esculturas de Da Vinci, até chegar na magreza da moda tão
bem representada por Kate Moss. Assim o conceito de beleza foi e irá se
modificando ao longo da história. Havendo em cada época um modelo fortemente
definido.
O que faz
parte do aspecto histórico, que é fortemente determinado pelas questões
econômicas. Aonde, contraditoriamente, a oferta de alimento vai à contra mão
das formas corporais valorizadas. Quer dizer, em épocas nas quais há pouca
oferta de alimentos, a imagem feminina acima do peso é que indica poder,
enquanto que nos períodos de abundancia de comida, como atualmente, o ser magro
é o representante tanto de autodisciplina quanto sucesso (Liveira e Hutz,
2010).
Alem do
fato da beleza como diferença da maioria. Quando o imperativo de uma época era
o trabalho braçal que gasta muita energia, ser obeso e de pele alva era o
representante maior da superioridade e realeza. Com o advento da percepção de
que a obesidade é perigosa para a saúde, ser magro se tornou o alvo da riqueza.
Pois no século XX, com as pesquisas científicas a obesidade foi percebida como
doença, classificada até mesmo pela Organização Mundial da Saúde. E estar magro
significa pagar um preço por isso, que vão desde os cuidados com alimentação,
passando pelos exercícios físicos até as cirurgias plásticas (Freitas, Lima,
Costa e Lucena Filho, 2010). Algo nem um pouco barato.
Há também
a beleza cultural, no Japão, por exemplo, a pele bem clara é considerada a mais
bonita, enquanto que aqui no Brasil é a pele bronzeada considerado o desejado.
No Oriente, a Índia como representante maior, a maquiagem forte e bem marcada é
o ápice do belo. Enquanto que na Europa a maquiagem discreta é considerada o
ideal. Desta forma, dependendo de cada região a beleza e a forma de destacá-la
também serão diferentes.
Quanto
mais então no aspecto individual. Entra-se na idéia de que a “beleza depende
dos olhos de quem vê”. O que é muito único para cada um. Há de se levar em
conta que de acordo com a biologia evolutiva a beleza é resultado da união de
simetria, harmonia e unidade, assim o belo é entendido por todos como sendo
belo (Macedo e Sandoval, 2011). Como por exemplo, a imagem da rainha egípcia
Nefertiti é, mesmo depois de 3000 anos, considerada ainda lindíssima. Então, o
belo pode ser definido como igualmente admirado por todos. Contudo, uma pessoa
pode se interessar e achar belíssima uma mulher que outra pessoa não acharia.
Ou seja, há o belo considerado socialmente como real, e o belo que se destaca
individualmente para cada um.
O que
indica que a beleza vai além do constructo social. Há nele questões psicológicas
do que cada pessoa desperta em nós, que podem ser os traços do rosto, o tipo de
corpo, o olhar, o jeito de caminhar, o estilo, enfim, detalhes que fazem toda a
diferença.
Por este
aspecto a beleza deixa de ser apenas física para tornar-se parte da existência
de cada um. Algo que se têm muito mais possibilidades de esculpir. Pois leva em
conta outros atributos tais como a história de vida de cada um, a educação, a
cultura, a auto-estima, o jeito de ver a vida, o estilo, os cuidados consigo
mesmo, enfim, uma variedade tão grande que torna cada um tão único e belo ao
seu modo.
Num mundo
tão voltado para o externo, pensar em beleza dentro desta visão pode parecer um
contra-senso, mas quem sabe seja o único modo possível de encontrar satisfação.
Pois o padrão de beleza vigente tem cobrado um alto preço principalmente das
mulheres. Transtornos alimentares como bulimia e anorexia acontecendo cada vez
mais cedo. Crianças mais preocupadas com o corpo do que o brincar (Oliveira e
Hutz, 2010). O envelhecimento visto como negativo, inadequado, indesejado e que
deve a todo custo ser evitado (Moreira e Nogueira, 2008). Como se isso fosse
possível!
O tempo é
implacável, ele chega e não pede licença! Por mais belo que o corpo seja, se a
mente não for saudável não é suficiente para manter a chama de um
relacionamento amoroso vivo, laços familiares reais e amizades duradouras.
Os
aspectos psicológicos são os únicos que nos acompanham durante toda a vida e ao
contrário do físico este pode ficar mais belo com o passar do tempo.
Como
influenciá-lo então?
Primeiramente
olhando para sua auto-estima. Auto-estima é o juízo de valor que um indivíduo
tem de si mesmo. Sua construção se inicia na mais tenra idade e influencia por
toda a vida o relacionamento consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor.
Diante de desafios é este atributo emocional que possibilita confiança, força e
determinação ou o contrário de tudo isto.
Uma
avaliação rápida da auto-estima pode ser feito com o tentar descrever 10
características suas positivas e dez negativas. Normalmente se esbarra em não
saber o que escrever, principalmente nas positivas. É tão fácil e rápido se
julgar, enxergar os defeitos. Até mesmo quando se recebe um elogio, poucas
pessoas agradecem, a maior parte junto com o agradecimento vem uma
justificativa. Por exemplo, ao elogio de “que linda sua blusa” vem a resposta
“paguei tão barato” ou “é tão velha” e assim por diante.
O
fortalecimento deste atributo está relacionado ao autoconhecimento. A saber,
quem você é, do que é capaz, quais suas limitações e poder gostar de si neste
completo. É ser tolerante consigo mesmo, se aceitar como é. Não significa
fechar os olhos para os defeitos, mas se perdoar quando cometê-los. É sair da
roda-viva de exigências e cobranças que o mundo faz – cuide da casa, dos
filhos, do conjugue, da carreira, dos amigos, do corpo e esteja feliz o tempo
todo – para entrar na realidade de que não é possível fazer tudo isto. Há que
escolher o que é prioritário e nisto focar, deixar o restante para segundo
plano e fazer no seu ritmo, no seu tempo. Ao colocar os compromissos nesta
dimensão fica possível encontrar o prazer de viver. Pois os comportamentos
deixam de ser mecânicos e necessários, para se tornarem escolhas.
* Fernanda Rossi é psicóloga clínica de orientação Psicanalítica, formada na primeira turma de psicologia do CESUMAR. Especialista em Psicologia Clínica, mestre em Psicologia da Saúde (UMESP-SP), e com formação em observação de bebês pelo IPPIA.
* Fernanda Rossi é psicóloga clínica de orientação Psicanalítica, formada na primeira turma de psicologia do CESUMAR. Especialista em Psicologia Clínica, mestre em Psicologia da Saúde (UMESP-SP), e com formação em observação de bebês pelo IPPIA.
Para
saber mais:
FREITAS, Clara Maria Silveira
Monteiro de; LIMA, Ricardo Bezerra Torres; COSTA, António Silva e LUCENA
FILHO, Ademar. O padrão de beleza corporal sobre o corpo feminino
mediante o IMC. Rev. bras. educ. fís. esporte (Impr.) [online].
2010, vol.24, n.3, pp. 389-404. ISSN 1807-5509.
LIVEIRA, Leticia Langlois
e HUTZ, Claúdio Simon. Transtornos alimentares: o
papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicol. estud. [online].
2010, vol.15, n.3, pp. 575-582. ISSN 1413-7372.
MOREIRA, Virgínia e
NOGUEIRA, Fernanda Nícia Nunes. Do indesejável ao inevitável: a
experiência vivida do estigma de envelhecer na contemporaneidade. Psicol.
USP [online]. 2008, vol.19, n.1, pp. 59-79. ISSN 0103-6564.
MACEDO, Daniela e Sandoval,
Gabriella. O QI da beleza. Revista veja. 12 de janeiro, 2011. Pg
79-85.
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