Maria Cristina Recco*
Em
algum momento da vida, nos vemos em busca de algo que não sabemos exatamente o
que é, mas sabemos que é nosso... sabemos quando algum detalhe que encontramos
faz parte desta busca, seja numa conversa, um filme, em um livro, um momento
espiritual, uma reflexão, sonho, cursos, ou principalmente, em um encontro
analítico... é algo que tem a ver conosco mesmo. Este é um princípio de luz
onde através dele, tentamos conhecer a nossa alma. Porém, onde tem luz também
tem sombra. Conhecer a alma, também supõe conhecer nossos aspectos sombrios ou
obscuros da nossa psique e, uma vez que alguém ouve falar da sombra, já não
pode mais negar sua existência. Todos nós somos atacados por nossos próprios
impulsos sombrios em nossas mentes ou em nossos atos. Somos possuídos por
aspectos negativos da nossa alma, uma vez que todo bem e todo mal perfazem a natureza
humana. Em busca dessa alma como um todo e de encontrar o sentido da vida,
caminhamos para nossa interioridade, experimentando conhecimentos inéditos.
O Efeito Sombra é
título de um livro de Deepack Chopra (recomendo que corram às livrarias, já li
e indiquei a vários pacientes), e também já é filme, que entrará em cartaz
brevemente nos cinemas. Ele retrata ricamente, através de exemplos, sobre o
conceito junguiano de sombra. Na análise
da estrutura psíquica, deparamos com vários arquétipos (registros do
inconsciente coletivo, referente a imagens arcaicas típicas ou primordiais),
entre eles, a sombra.
A sombra refere-se a conteúdos reprimidos como
frustrações, omissões, vergonhas, medos, que guardados, tomaram dentro de nós
formas negativas e potencializaram-se, sendo refletidos em nossos
comportamentos, como atos indevidos ou com proporções indevidas. São as
compulsões, “defeitos de caráter”, tidos como comportamentos doentios, que
atuam internamente, através de impulsos sem freios, sem limites,sem equilíbrio.
E que tantos estragos causam na vida. Agressões, estupidez, atos invasivos,
desrespeito a alguém ou a natureza...desde graus leves aos mais altos. Um
moralismo hipócrita é carregado de sombras profundas...o marido que fica vendo
pornografia enquanto a esposa prepara o
jantar, é sombra; as cadeias estão
cheias de histórias onde a sombra atuou e a pessoa cometeu um crime.
A
sombra é escura e misteriosa. E pode ser perigosa. É tudo o que de nós
procuramos esconder... artimanhas, estratégias, jogos de relacionamento, tudo o
que tenta mostrar o que se deseja que seja visto, em detrimento de que a
verdadeira intenção apareça. Alí também está a sombra. O perigo maior está em
ignorá-la. Não se pode lutar com a sombra, mas sobre ela pode-se jogar luz. Aí
está um grande desafio, confrontar nossos aspectos sombrios e torná-los luz
internamente. A consciência do que somos nos humaniza; nos desenvolve.
Integrar
a sombra é ficar um pouco mais inteiro, encontrar nosso elo perdido... afinal,
só podemos crescer para o lado que ainda
não foi desenvolvido.
*Maria Cristina Recco é
psicoterapeuta junguiana (CRP 08/1453)
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