Fernanda Rossi*
Uma das dúvidas mais frequentes dos pais é por que meus filhos são tão diferentes se os criamos iguais? Bem, algumas reflexões se fazem necessárias frente a esta questão. Primeiro, será que os pais são os mesmos sempre? E segundo, é possível ter filhos iguais?
Com relação ao primeiro ponto vamos analisar: a vida é feita de experiências, a cada nova circunstância aprendizados são tirados e impactos sobre o comportamento, os valores e o jeito de ser podem surgir no cotidiano de cada pessoa. Assim, com o passar dos anos as pessoas mudam, mesmo que de forma leve e suave. A partir desta idéia podemos entender que os pais não são os mesmos para seus filhos, porque entre o nascimento de um e outro, muitas coisas aconteceram e os modificaram. E isto só no aspecto individual, que dirá das outras esferas. Pois os filhos nascem em momentos de vida também diferentes. A vida social, econômica, espiritual e do próprio casal também difere ao longo dos anos. E todas essas circunstâncias influenciam em como os pais criarão seus rebentos. Não há comparação entre a postura de uma mãe com o primeiro filho para com o caçula. Sua calma, paciência, disponibilidade e ansiedades serão outras em cada momento.
O desenvolvimento de cada indivíduo depende de três fatores, sendo eles os inatos - características de temperamento com as quais nascemos (mais agitados, mais calmos, por exemplo). Mais as características do mundo externo - ambiente, situação sócio-econômica e cultural. Aliados a própria família - valores, ideais, características de personalidade dos pais, forma de se relacionar com o mundo a sua volta, qualidade e estilo de vida do casal, número de filhos e etc. Todos esses fatores se somam e pesam sobre a construção da personalidade de um indivíduo.
Desta forma, um filho nunca será criado de forma igual a outro. No máximo com critérios semelhantes, mas ainda assim haverá diferenças. Um novo filho, novos pais. Com uma mente e momento de vida diferenciada.
Mesmo para filhos gêmeos. Neste caso a diferença reside na afinidade. Cada filho atrai os pais de forma muito única. Com um há maior afinidade, com outro menos. E isso não significa mais ou menos amor. Tem haver com identificação. Há filhos mais parecidos com o pai, o que por vezes pode aproximá-los ou até repeli-los. E isto pode ocorrer tanto da parte do progenitor, quanto da própria criança. Há uma identificação maior ou menor com cada um. Pense na sua família de origem, em quem você era mais ligado, na sua mãe ou no seu pai? Significava que você amava mais a um e menos ao outro, ou apenas que as afinidades eram diferentes? Isso acontece em toda família, alias até na roda de amigos, gostamos de vários, mas com um se tem uma intimidade e facilidade de conversar maior.
E com situações assim permeando o desenvolvimento não tem como os filhos serem criados iguais.
Em segundo lugar, os filhos são díspares porque são pessoas diferentes. Com temperamento, personalidade, gostos, prazeres e forma de entender o mundo, únicas e particulares. Assim, até uma mesma situação é vivenciada por cada pessoa com impactos distintos. Ou seja, numa mesma família as regras, limites, permissões e amor podem ser iguais, entretanto a forma de compreende-las não será a mesma para todos os filhos. Um aceitará bem, outro não, um pode compreender a situação de forma próxima aos pais, outro não e assim por diante.
Muitas vezes os pais comparam os filhos, destacando tais diferenças. O que traz conseqüências desagradáveis. Ao comparar, se diz que um está certo e o outro errado, os pais tomam partido de um filho e deixam o outro com sentimento de negativa, o que cria mágoa, competição e rivalidades que poderiam não aparecer, ou ao menos em menor intensidade. Pois cada filho, aliás, cada ser humano, é único e não tem como ser / agir como outro.
Além do mais, ser diferente é ruim? O que será difícil em aceitar cada um como é? Sem estipular que há um único modelo, um jeito certo de ser. Algo que beira a utopia. Claro que pessoas distintas causam na família como um todo impactos e influencias que nem sempre são fáceis de lidar. Um filho que pensa diferente, age de forma diversa, exige dos pais um comportamento também novo, o que é bastante trabalhoso. Todavia, quando estas diferenças são aceitas, acolhidas e valorizadas, essas crianças podem ser ajudadas a desenvolver o melhor que há em si, deixando em segundo plano os defeitos. Mas quem não os tem? Defeitos precisam afastar ou podem ser aprendidos a tolerar, a amar apesar deles? Um aprendizado que poderão levar para toda a vida e usar em outros relacionamentos, elevando seu amor próprio.
*Fernanda Rossi é psicóloga clínica de orientação Psicanalítica.
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