"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

29 de fev. de 2012

FOME DE QUÊ?


 Giordane Andrade de Paula*
A anorexia é um transtorno do comportamento alimentar onde a pessoa limita a sua alimentação, com o propósito de perder peso, devido ao medo de engordar e se tornar obesa a qualquer momento. Existe uma perturbação na percepção do esquema corporal, da auto-percepção da forma e/ou do tamanho do corpo, sendo a recusa alimentar apenas uma conseqüência dessa distorção doentia do esquema corporal.
A anorexia é uma doença e pode ser fatal, o índice de mortalidade varia entre 4% e 30%, levando em consideração a idade de início do quadro, a precocidade do diagnóstico e o tratamento específico e especializado para cada paciente. A anorexia aparece, preferencialmente, em adolescentes e adultos jovens entre 10 e 30 anos de idade. A predominância da anorexia em mulheres é muito significativa, mas em hipótese alguma pode descartar a possibilidade de ocorrência no sexo masculino.
Estudos e pesquisas definem dois tipos de anorexia:
Tipo Restritivo: a perda de peso é conseguida principalmente através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos.
Tipo Compulsão Periódica/Purgativo: episódios de compulsão e/ou purgação (indução de vômito ou uso indevido de laxantes e diuréticos) além das dietas e exercícios.
Pesquisas mostram alguns critérios para o Diagnóstico da Anorexia: perda de peso e recusa em manter o peso dentro do esperado (abaixo de 85% do peso mínimo normal adequado a idade e altura); existe um medo intenso de engordar, mesmo estando abaixo do peso normal; perturbação no modo de vivenciar o peso e forma do corpo, influência indevida do peso sobre auto-avaliação e negação do baixo peso; Amenorréia pos três ciclos menstruais consecutivos. (DSM-IV, 2000)
Para que se desenvolva o transtorno é necessário uma associação de características genéticas, psicológicas, culturais e familiares. Na maioria dos casos, existe um desencadeador do processo como dietas, situações de separação ou alguma perda.
Na sociedade em que vivemos, o corpo que as pessoas tem, que possui sua própria beleza, é desvalorizado quando não está próximo ou igual aos corpos magros e muitas vezes doentes, que são expostos diariamente nas passarelas, televisão, revistas, internet, etc. Assim fica exposta a dificuldade que as pessoas enfrentam para gostar de seus próprios corpos. A alimentação torna-se uma idéia fixa para a pessoa que possui anorexia, o medo de engordar é tão intenso que a pessoa só pensa em comida e em não comer, assim ela cria alguns rituais alimentares que acabam sendo rígidos e agressivos com seu próprio corpo e mente.
A Anorexia apresenta associações com transtorno de humor, transtorno de ansiedade e transtorno com algum tipo de substância química. A identificação das associações é extremamente necessária, para que o tratamento seja adequado a cada pessoa.
As pessoas com anorexia geralmente tem muita informação sobre alimentação, utilizam o corpo e a comida como meio de expressão, geralmente falam sobre calorias, exercícios físicos, forma de partes do corpo, dietas e tudo o mais ligado à corpo e alimento. Porém, quando o assunto está relacionado aos sentimentos, ou às trocas afetivas e relacionamentos em si, as dificuldades começam aparecer.
A anoréxica está tão envolvida com seu corpo e com sua alimentação, que “perdeu” a forma saudável de fazer contato com o meio. As suas relações são superficiais, não existindo um contato genuíno. Inclusive o contato dela com o próprio corpo está disfuncional, já que ela se vê em uma forma não “real”, distorcendo a própria imagem.
A família tem grande importância neste processo, já que é um dos principais meios onde a pessoa está inserida. A pessoa que está com anorexia não pode ser vista apenas como doente, pois o transtorno é apenas uma parte de seu todo que está se manifestando em função de alguma necessidade. Portanto, a relação disfuncional da pessoa que possui anorexia com a comida é apenas um sintoma de um conflito ou sofrimento psíquico maior.
O papel do Psicólogo neste processo não é focado no ganho de peso, nas causas do transtorno e na melhora imediata, mas é de instrumento para que a pessoa comece se conhecer, possa tomar consciência de quem ela é, do que deseja e ser capaz de tomar posse de sua vida, percebendo tanto suas possibilidades quanto as conseqüências de suas escolhas. Com este processo de auto-conhecimento pode se criar uma forma mais saudável de expressão. Quando a pessoa conseguir falar de alegrias, tristezas, medos, ansiedades, angústia, desejos, dúvidas, certezas, amor, ódio e conseguir identificar cada um destes sentimentos, estará encontrando um modo mais funcional e criativo para viver e se relacionar.
Uma das principais atitudes de quem quer ajudar uma pessoa com transtorno alimentar deve ser a aceitação! Independente das explicações e justificativas em relação à origem e manutenção da doença deve-se acolher e aceitar a pessoa como ela é sem julgamentos e interpretações. A aceitação promove uma relação verdadeira e de confiança, proporcionando assim que a pessoa aprenda a estabelecer contatos saudáveis, de forma criativa com o mundo e com ela mesma.
* Giordane Andrade de Paula é Psicóloga (CRP 08/10305)

Um comentário:

  1. Passei para conhecer o espaço on-line de vocês.

    Grande abraço a todos...

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