Giordane Andrade de Paula*
A
anorexia é um transtorno do comportamento alimentar onde a pessoa limita a sua
alimentação, com o propósito de perder peso, devido ao medo de engordar e se
tornar obesa a qualquer momento. Existe uma perturbação na percepção do esquema
corporal, da auto-percepção da forma e/ou do tamanho do corpo, sendo a recusa
alimentar apenas uma conseqüência dessa distorção doentia do esquema corporal.
A
anorexia é uma doença e pode ser fatal, o índice de mortalidade varia entre 4%
e 30%, levando em consideração a idade de início do quadro, a precocidade do
diagnóstico e o tratamento específico e especializado para cada paciente. A
anorexia aparece, preferencialmente, em adolescentes e adultos jovens entre 10
e 30 anos de idade. A predominância da anorexia em mulheres é muito
significativa, mas em hipótese alguma pode descartar a possibilidade de
ocorrência no sexo masculino.
Estudos
e pesquisas definem dois tipos de anorexia:
Tipo
Restritivo:
a perda de peso é conseguida principalmente através de dietas, jejuns ou
exercícios excessivos.
Tipo
Compulsão Periódica/Purgativo: episódios de compulsão e/ou purgação
(indução de vômito ou uso indevido de laxantes e diuréticos) além das dietas e
exercícios.
Pesquisas
mostram alguns critérios para o Diagnóstico da Anorexia: perda de peso e recusa
em manter o peso dentro do esperado (abaixo de 85% do peso mínimo normal
adequado a idade e altura); existe um medo intenso de engordar, mesmo estando
abaixo do peso normal; perturbação no modo de vivenciar o peso e forma do
corpo, influência indevida do peso sobre auto-avaliação e negação do baixo
peso; Amenorréia pos três ciclos menstruais consecutivos. (DSM-IV, 2000)
Para
que se desenvolva o transtorno é necessário uma associação de características
genéticas, psicológicas, culturais e familiares. Na maioria dos casos, existe
um desencadeador do processo como dietas, situações de separação ou alguma
perda.
Na
sociedade em que vivemos, o corpo que as pessoas tem, que possui sua própria
beleza, é desvalorizado quando não está próximo ou igual aos corpos magros e
muitas vezes doentes, que são expostos diariamente nas passarelas, televisão,
revistas, internet, etc. Assim fica exposta a dificuldade que as pessoas
enfrentam para gostar de seus próprios corpos. A alimentação torna-se uma idéia
fixa para a pessoa que possui anorexia, o medo de engordar é tão intenso que a
pessoa só pensa em comida e em não comer, assim ela cria alguns rituais
alimentares que acabam sendo rígidos e agressivos com seu próprio corpo e
mente.
A
Anorexia apresenta associações com transtorno de humor, transtorno de ansiedade
e transtorno com algum tipo de substância química. A identificação das associações é
extremamente necessária, para que o tratamento seja adequado a cada pessoa.
As
pessoas com anorexia geralmente tem muita informação sobre alimentação,
utilizam o corpo e a comida como meio de expressão, geralmente falam sobre
calorias, exercícios físicos, forma de partes do corpo, dietas e tudo o mais
ligado à corpo e alimento. Porém, quando o assunto está relacionado aos
sentimentos, ou às trocas afetivas e relacionamentos em si, as dificuldades
começam aparecer.
A anoréxica está tão envolvida com seu corpo e com sua
alimentação, que “perdeu” a forma saudável de fazer contato com o meio. As suas
relações são superficiais, não existindo um contato genuíno. Inclusive o
contato dela com o próprio corpo está disfuncional, já que ela se vê em uma
forma não “real”, distorcendo a própria imagem.
A família tem grande importância neste processo, já
que é um dos principais meios onde a pessoa está inserida. A pessoa que está
com anorexia não pode ser vista apenas como doente, pois o transtorno é apenas
uma parte de seu todo que está se manifestando em função de alguma necessidade.
Portanto, a relação disfuncional da pessoa que possui anorexia com a comida é
apenas um sintoma de um conflito ou sofrimento psíquico maior.
O
papel do Psicólogo neste processo não é focado no ganho de peso, nas causas do
transtorno e na melhora imediata, mas é de instrumento para que a pessoa comece
se conhecer, possa tomar consciência de quem ela é, do que deseja e ser capaz
de tomar posse de sua vida, percebendo tanto suas possibilidades quanto as
conseqüências de suas escolhas. Com este processo de auto-conhecimento pode se
criar uma forma mais saudável de expressão. Quando a pessoa conseguir falar de
alegrias, tristezas, medos, ansiedades, angústia, desejos, dúvidas, certezas,
amor, ódio e conseguir identificar cada um destes sentimentos, estará
encontrando um modo mais funcional e criativo para viver e se relacionar.
Uma
das principais atitudes de quem quer ajudar uma pessoa com transtorno alimentar
deve ser a aceitação! Independente das explicações e justificativas em relação
à origem e manutenção da doença deve-se acolher e aceitar a pessoa como ela é
sem julgamentos e interpretações. A aceitação promove uma relação verdadeira e
de confiança, proporcionando assim que a pessoa aprenda a estabelecer contatos
saudáveis, de forma criativa com o mundo e com ela mesma.
* Giordane
Andrade de Paula é Psicóloga (CRP 08/10305)