Amanda Marconi*
O nosso intuito nesse artigo será discutir a respeito de como a prática gestáltica pode viabilizar ao cliente ser sujeito de seu processo psicoterápico e, consequentemente, de sua vida. Com essa pretensão, trata o conceito do aqui e agora proposto pela Gestalt- terapia, e como ele se torna importante no resgate da subjetividade.
A questão central é: como o aqui-e-agora promove a emergência da subjetividade?
O aqui-e-agora talvez seja um dos conceitos que mais caracteriza a terapia gestáltica e o menos entendido nos meios acadêmicos. É considerado de forma ingênua, estanque no sentido contextual e histórico, ou seja, presente, passado e futuro são percebidos desconectados. Esse tipo de interpretação desconsidera completamente o enfoque holístico que permeia essa abordagem. Pensar o processo de subjetivação conjugado ao conceito gestaltico do aqui-e-agora tem uma importância impar, pois atualmente se vive no contexto cultural no qual tudo é fast – a comida, as interpretações, o contato consigo mesmo. Polsters a Polsters (2001) salientam que o sistema cultural precisa de novos modos que estimulem as pessoas a experimentarem suas ações no presente. Tal estimulação é essencial, pois possibilita estar em contato com o que está acontecendo consigo mesmo de forma integrada, resgatando assim a condição constituidora de sua existência.
Ressalta-se que, na experiência da Gestal-terapia, objetiva-se favorecer a manifestação da história em si, no presente. A possibilidade de que o cliente, por si mesmo, traga a sua história e a reexperimente no espaço em que se insere o aqui, é no tempo presente, o agora, é uma busca incessante. Então, ao contatar a história de vida, abre-se a possibilidade de configuração e de reconfiguração da sua trajetória, a qual abriga presente, passado e futuro, o que não implica a revogação do passado ou do futuro, mas a busca e a possibilidade de re-significá-los, restabelecendo a integração da dinâmica espaço-temporal. Ao fincar os pés no presente, tanto o passado quanto o futuro, que outrora pareciam assustadores, assumem uma dimensão diferente.
Petrelli (1999) utiliza-se, para visualização dessa integração temporal, da metáfora da haste de um pendulo de um relógio que, ao transitar livremente pela esquerda, pelo centro, pela direita, promove o movimento e restaura a fluidez temporal, tão necessária ao que se considera saúde na perspectiva fenômeno – existencial.
Na constituição do processo terapêutico, participam terapeuta e cliente, cada qual com suas vivencias e expectativas passadas e atuais, trazidas de suas respectivas histórias. Essa miscelânea de aspectos constitui o sentido subjetivo que cada um confere ao seu mundo. Assim, configura-se o espaço relacional, o qual se encontra mergulhado em um contexto de pura historicidade. Nesse sentido, Ribeiro (1998) ressalta que só se compreende o ser mediante a contextualização, ou seja, levando em conta o seu meio, sua história, suas vivencias passadas e sonhos futuros. O acesso a esse contexto só é possível no presente e por meio da relação e do contato.
Assim, terapeuta e cliente compartilham da sociedade do fast, que impossibilita, muitas vezes, que se faça contato com o presente e com os sentimentos, pensamentos e ações (processos subjetivos). Engajado no diálogo e na postura fenomenológica, pode observar o que aparece, o que implica ter a sabedoria da espera e não se perder nas inúmeras tentações de tornar o processo psicoterápico fast. Tanto cliente como terapeuta estão inseridos em contextos sociais que, como descreve Ribeiro (1998), promovem a perda do contato com as motivações extrínsecas endêmicas a sua cultura.
O terapeuta tem função de estar ali, para testemunhar o encontro do cliente consigo mesmo, é a de assumir uma atitude de fé no cliente (Juliano,1999;Ribeiro,1998) na sua capacidade de reescrever sua história e a de saber que só o cliente tem a habilidade suficiente para reconfigurar o seu contexto, alicerçado no aqui-e-agora, é a de promover as transformações necessárias em si mesmo e em seu mundo, pois eles estão extrinsecamente ligados de forma circular.
* Amanda Marconi é psicóloga ex-aluna do Cesumar.
Para saber mais:
JULIANO, J.C. A arte de restaurar história: libertando o diálogo. Sao Paulo: Summus, 1999.
PETRELLI, R. Para uma psicoterapia em perspectiva fenômeno-existencial. Goiania:UCG, 1999.
POLSTER, E.; POSLTER, M. Geslterapia integrada. Sao Paulo: Summus, 2001.
RIBEIRO, W.F.R .Existencia = essência. São Paulo: Summus, 1998.
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