"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

26 de set. de 2011

DELINQUÊNCIA E PSICOLOGIA: MUITO ALÉM DOS FATOS


Lorena Munhoz da Costa*

A delinquência faz parte de nossas vidas. Desperta sentimentos como raiva, medo, curiosidade e ansiedade. Nos noticiários, ela é a protagonista e está em grande parte das notícias. Discussões como a redução da maioridade penal causam polêmica e dividem a sociedade. Em nossas casas, priorizamos pela segurança, construímos muros altos e adotamos medidas que muitas vezes nos isolam e detém como prisioneiros. O psicólogo, diante dessa realidade, deve ter um olhar crítico e entender esse fenômeno em sua origem e complexidade, contribuindo com uma compreensão além do senso comum que condena o delinquente sem conhecer os reais motivos dos seus atos, logo, propõe medidas insuficientes para a sua “recuperação”.
Melman (1992), um importante psicanalista lacaniano, defende que a delinqüência é um sintoma social e pode, ou melhor, deve ser percebida a partir da análise das relações sociais e, não no âmbito concreto (real), como se o furto, por exemplo, tivesse como motivação essencial a riqueza ou o ganho financeiro. Na verdade, os atos cometidos pelos delinqüentes são quase sempre cobertos por significados, o objeto furtado não é o objeto real, mas o objeto simbólico cuja origem está nas relações do sujeito com o outro.
Na história de vida dos infratores é comum percebermos conflitos relacionados à família, principalmente ao pai, principalmente, a existência de pais reais faltantes quanto à função simbólica de referência fálica para seu filho. A relação do delinqüente com seu objeto se funda na anulação do terceiro paterno, do pai real. Ao cometer o ato infracional, o delinqüente busca inconscientemente (e às vezes conscientemente) comprovar que o pai real é impotente e que nada pode fazer. Para ele, o pai foi faltante nos seus deveres para com ele. Alguma coisa no dever com relação a ele não foi cumprida e sua ação não faz senão responder a esta falta, esta omissão do Outro. A delinqüência se estabelece então, nesse caso, como uma competição (muitas vezes recíproca) para provar quem é o mais culpado, buscando atribuir a responsabilidade da falta (MELMAN, 1992).
O delinqüente não se percebe como um sujeito responsável por si e por seus atos, pelo contrário, atribui com freqüência a responsabilidade de seus atos a terceiros. Nesse sentido, é importante refletir e rever sobre o papel da sociedade nesses casos. Atualmente, utiliza-se um sistema de penalidades e detenções que muitas vezes pode colaborar com a manutenção e validação do processo da delinqüência.
Quando o poder é representado pela polícia dentro das estruturas reais da sociedade, o objeto que conta deixa de ser simbólico para tornar-se nada mais que um objeto real. O pai estará assim privado de todas as suas incidências simbólicas para valer somente em sua realidade e se encontrará desfigurado por representações que serão asseguradas pelas instâncias educativas, policiais ou judiciárias. Poderíamos fazer ainda a observação que certos delinqüentes, não todos, têm o sentimento de se realizarem como sujeitos somente na medida em que estão na prisão, na posição em que são agarrados pelo Outro, nesta apreensão deles mesmos, não mais simbólicos, mas real.
Diante da verificação de que a causa da delinqüência é falta de reconhecimento simbólico do pai (lei), é necessário percebermos “o declínio do Nome-do-Pai” em nossas estruturas sociais que se tornam cada vez mais reais em lugar de simbólicas. A delinquência, hoje, faz parte de nossos costumes e parece ter se tornado o modo mais banal da relação social, logo, configura-se em um sintoma social, do qual a psicologia e as demais ciências sociais devem se preocupar a fim colaborar para uma sociedade mais saudável.

* Lorena Munhoz da Costa é psicóloga (CESUMAR) e pós-graduanda em Psicanálise (NECPAR).

Para saber mais:
MELMAN, Charles. Alcoolismo, delinqüência, toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 1992. (O sexto lobo)

18 de set. de 2011

COMPORTAMENTO DE RISCO EM JOVENS UNIVERSITÁRIOS


Bruna Santa Rosa Rizzieri*; Lara Fernanda Rodrigues Afonso**
O presente artigo faz parte de uma pesquisa quantitativa realizada no ano de 2010 e que buscou identificar os comportamentos de risco mais comuns entre jovens universitários. Os participantes pesquisados foram 20 alunos de ambos os sexos escolhidos aleatoriamente, cursando o 3º ano do curso de Administração no período Noturno com idade variando entre 20 e 25 anos. Para a realização da coleta de dados, fizemos a aplicação de um questionário composto de 30 perguntas, com o objetivo de levantar dados a respeito dos comportamentos de risco mais freqüentes apresentados entre os 20 alunos entrevistados, dentre os quais podemos citar: segurança no trânsito, agressão corporal, tabaco, alcoolismo, drogas, anabolizantes, comportamento sexual; nutrição e suicídio.

VULNERABILIDADE E RISCO
Diversas são as discussões a respeito de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social, contudo é um desafio bastante complexo definir exatamente quem faz parte desta população. O conceito de risco estende-se hoje para variáveis sociais e do comportamento, o que lhe confere maior abrangência. O risco é uma proposição técnica que associa o conceito de vulnerabilidade a probabilidade de dano ou resultado indesejado. Paralelamente surge o conceito de fator protetor, utilizado como mecanismo basicamente de prevenção, mas que pode também visar qualidade de vida. Assim sendo, uma criança será considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorrer conforme o esperado para sua faixa etária e para os parâmetros de sua cultura. Fatores de riscos associados ao desenvolvimento abrangem características individuais ou ambientais, como sexo, habilidades sociais, e genéticas.
           
COMPORTAMENTOS DE RISCO
A expressão comportamento de risco pode ser definida como participação em atividades que possam comprometer a saúde física e mental do adolescente. Muitas dessas condutas podem iniciar apenas pelo caráter exploratório do jovem, assim como pela influência do meio (grupo de iguais, família); entretanto, caso não sejam precocemente identificadas, podem levar à consolidação destas atitudes com significativas conseqüências nos níveis individual, familiar e social.
Para uma avaliação de comportamento de risco na adolescência, é necessário antes de tudo, haver um entendimento da dimensão psicossocial, na qual o jovem está inserido. Vivemos um período de intensa pressão socioeconômica, no qual os adolescentes fazem parte de uma população ativa profissionalmente, muitas vezes com grande parte de contribuição na renda familiar. Por outro lado, a violência intra e extra-familiar tem atingido proporções alarmantes, e os jovens podem ser tanto vítimas como agressores.
            Os resultados observados através da pesquisa realizada com jovens universitários confirmaram alguns aspectos comuns à adolescência, considerada como período do processo de crescimento e desenvolvimento, caracterizados por grandes transformações biopsicossociais, iniciando-se com a puberdade e terminando no final da segunda década da vida. Nesse período (aproximadamente aos vinte anos de idade), encerra-se a adolescência dando lugar a fase adulta, é o momento em que o jovem concretiza suas idéias a respeito de como deve ser seu comportamento. A respeito disso pode-se dizer que é um período de crise vital, no qual o indivíduo necessita reavaliar algumas condições nas quais vivia confortavelmente. Aberastury (1992) considera esse período como um momento por onde o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas, o que ele considera como “síndrome normal da adolescência”.
            Ao mesmo tempo, o fato de estar ingresso na faculdade, induz o adolescente a várias situações: desde a preocupação com sua imagem até suas atitudes perante as pessoas. Devido a essas influências do meio externo, que neste caso é a faculdade, o jovem age por impulso, e pode esquecer-se de seus princípios reais, de modo a se importar somente com a opinião dos outros sobre ele.
            Outro elemento que tem grande participação no contexto dos jovens universitários é o preconceito, abrangendo os mais diversos assuntos, como: estrutura física, sexualidade, e estilo de roupas. Quando se trata de universidade, podem ser encontrados os mais diferentes estilos de pessoas, já que os universitários são na maioria jovens e cada um com seu próprio estilo. Há uma preocupação constante presente no modo de vida da maioria desses jovens, já que dos vinte entrevistados, quatorze alegaram estar insatisfeitos com seu peso corporal.
Por fim, podemos notar que os comportamentos de risco na adolescência envolvem principalmente o uso de drogas, tabaco, álcool e a atividade sexual. A diminuição da incidência de tais comportamentos apresentados pelos jovens universitários está atrelada a elaboração de estratégias, tais como campanhas contra o alcoolismo, drogas e outros assuntos a esses relacionados, realizadas pelos próprios jovens; palestras sobre os problemas enfrentados na idade adulta devido a comportamentos inadequados anteriormente; dramatizações, a fim de conscientizá-los sobre as tragédias que podem pôr em risco não somente a sua própria vida, mas também a vida de outras pessoas.
           
*Bruna Santa Rosa Rizzieri é acadêmica do curso de Psicologia do Cesumar
** Lara Fernanda Rodrigues Afonso é acadêmica do curso de Psicologia do Cesumar

Para saber mais:
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal. Porto Alegre, Artes Médicas, 1981.
CARVAJAL, Guillermo. Tornar-se adolescente: A aventura de uma metamorfose. São Paulo: Cortez, 2001.
LACERDA, Catarina. Adolescência: Problema, mito ou desafio?. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
SAITO, M. Ignes. Adolescência: Prevenção e Risco. São Paulo: Editora Atheneu, 2001.

3 de set. de 2011

SER APRENDIZ


Ms. Cristina Di Benedetto*
 “Viver... e não ter a vergonha de ser feliz... Cantar, e cantar, e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”  (Gonzaguinha)
Quando ouço essa belíssima canção, sempre me pergunto: Porque as pessoas têm tanta dificuldade em ser felizes? A resposta que encontro, é que, na maioria das vezes têm medo de se questionar, de se abrirem ao novo. Têm uma enorme dificuldade em entender que a essência do bem viver e da felicidade está no fato de que devemos ser eternos aprendizes ao longo de nossa jornada por essa vida.                      
Para vivermos de forma a que a satisfação, a motivação, o entusiasmo estejam presentes, precisamos estar sempre dispostos a aprender. Enquanto estivermos apegados ao que somos, e não nos dispusermos a arriscar ao que podemos ser, ficaremos apenas na vontade de... Por isso preciso aprender a ler as contingências e suas possibilidades. Skinner (1969) já dizia “não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja disposto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.
Ser aprendiz é estar disposto a sair da forma pré  moldada em que se é colocado durante o processo de educação e desenvolvimento do que aprendemos. Ser aprendiz é busca a cada dia, em cada oportunidade o resgate da própria individualidade. Ser aprendiz é saber falar NÃO ao que ditam os meios de comunicação imparciais e emburrecedores, que buscam nivelar todas as pessoas a um estilo único. É pensar, e repensar... Não apenas engolir tudo.
Ser aprendiz é ir atrás do que se julga conveniente para si mesmo ( quer que seja na forma de se vestir, do que se comer, e de como se quer amar, de como se quer educar os próprios filhos, do corpo que se ter, etc..., etc..., etc...). Ser aprendiz é acreditar com garra em si mesmo, e quando não estiver sentindo- se satisfeito, ter a coragem de tentar a mudança, buscando ajuda ao sentir que é preciso.
Ser aprendiz é tentar a mudança uma, duas, três, ou quantas vezes forem necessárias. Até sentir-se que se deu mais um passo. Até sentir que se pode dar mais um. Ser aprendiz é ousar chorar, amar, cair, levantar, errar,acertar, terminar ao coisas não terminadas,começar coisas novas.
Se entendermos que, para sermos MESTRES, precisamos estar sempre no caminho do aprendizado e da esperança no que esta por vir, então podemos concordar novamente com Gonzaguinha:
“Eu sei, que a vida devia ser bem melhor e será ...
Mas isso não impede que eu repita; É bonita, é bonita e é bonita...”       
*Cristina Di Benedetto é psicoterapeuta e supervisora clínica comportamental