"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

11 de ago. de 2011

ESPAÇO DO SABER promove: "PECADO, CULPA E RESPONSABILIDADE"

PECADO, CULPA E RESPONSABILIDADE
Convidada: Dra. Viviana Carola Velasco Martinez

"Trata-se de responder à pergunta de Nietzsche, discutida por Laplanche, se devemos nos responsabilizar pelos nossos desejos. Talvez a lei, com sua função de proibir o que se deseja (Freud, 1912), indique que é a cultura que deverá se responsabilizar pelo desejo humano.”


Data: 01/09/11 (quinta-feira)
Horário: 19h30 (com coffee break)
Local: Edifício Milenium; R.: Arthur Thomas, 785 (salão/térreo)
Investimento:
30,00 (profissionais) – 20,00 (estudantes)

DEPÓSITO
Banco: Itaú    Agência: 6946    Conta: 09585-5/500


Inscrições: Envie para jornalpsicologiaemfoco@hotmail.com os seguintes dados:
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Obs: O certificado de 4 horas será entregue aos participantes na data do evento.
Vagas limitadas!

8 de ago. de 2011

A INTERFACE PSICANÁLISE/HISTÓRIA NA COMPREENSÃO DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO


Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes*
O psicólogo (em especial o psicanalista) é por excelência um sujeito desconfiado, isso por que o método da psicanálise é buscar um sentido que vai além do que é dito, visto e perceptível, buscando um sentido para além do sintoma, um significado para um significante; buscando lutar contra um esquecimento. A psicanálise é uma ferramenta legítima para ajudar a compreender o passado. Nesse sentido, vemos que não só o psicanalista, mas também o historiador é uma espécie de psicólogo amador, na medida em que argumenta e faz uma reflexão em lugar de atribuir causa e motivos de forma negligente. Tal posição é defendida por Peter Gay (1989) em sua obra “Freud para historiadores”, na qual defende a tese de que a Psicanálise pode ser aplicada a todos os ramos da pesquisa histórica sem substituir outras abordagens interpretativas.
A “desconfiança” tão necessária ao psicanalista e ao historiador parece uma característica cada vez mais presente na sociedade atual, na qual somos impelidos, cada vez mais cedo e com mais intensidade, a entrar em uma competitividade visando obter o sucesso num mundo cuja lógica do consumo parece ter atravessado o inconsciente, sendo a mercadoria o grande organizador dos laços sociais; logo, o que vemos são pessoas céticas, que dificilmente acreditam que algo ou alguém possa ser genuinamente bom ou bem intencionado. Daí decorre a dificuldade na construção de laços afetivos, tendo em vista que a base de um relacionamento deve-se pautar (ou supostamente deveria) na confiança. Mas as perguntas que ficam são: como confiar em alguém em um mundo que nos faz ver o outro como um concorrente? Estaríamos vivendo o paradoxo de uma “sociedade da solidão”?
Considero, assim como muitos autores, que a cultura se reflete nos processos se subjetivação (fato que demonstra ainda mais a importância da articulação História/Psicanálise). Assim sendo, temos hoje uma “cultura do narcisismo, marcada pela descrença generalizada nos valores tradicionais, e por uma intensa busca do prazer pessoal e do individualismo em detrimento dos ideais coletivos. Esses valores individualistas e competitivos desencadearam uma “crise do sujeito”, a qual se configura como uma crise de ordem simbólica e que corresponde à pulverização das referências que sustentavam a transmissão da lei (ou crise da função paterna), transformando o homem contemporâneo em um “homem sem gravidade”, cujas referências tradicionais (Deus, pátria, família, trabalho e pai) deram lugar a outra referencias optativas para uso privado do freguês. Há atualmente um apagamento da “dívida simbólica” que leva o sujeito a se ver como totalmente independente dos pais e dos grupos sociais aos quais pertence. E qual a relação desse contexto com a questão da desconfiança?
Ao concebermos a vida como um empreendimento e não mais como uma jornada de riscos, que inclui altos e baixos, acertos e erros; passamos a buscar resultados garantidos (desde os primeiros anos de vida) que possam contribuir para nossa inserção na voraz competição do mercado de trabalho. Assim, o que se vê são pessoas cada vez mais esvaziadas de imaginação, vida interior e capacidade criativa, sendo que os valores estão cada vez mais atravessados pela linguagem da eficiência comercial. Diante disso, somos sujeitos a cada vez mais desconfiar das pessoas e das coisas em um mundo que privilegia o logos e não o mythos, em uma sociedade “desencantada” e dita esclarecida, que se julga livre da influência mítica.
A desconfiança no sentido de buscar algo além do manifesto, inerente à atividade do psicanalista e do historiador, é diferente do medo estéril e do ceticismo que se fazem cada vez mais presentes na atualidade. É algo que nos impulsiona na busca para uma compreensão mais fiel da realidade externa, a qual está intrinsecamente ligada à nossa realidade interna; assim sendo, desconfie das dicotomizações e dualidades, pois não há bem sem mal, logos sem mythos, consciência sem o inconsciente, bem como não há História sem Psicologia.

*Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes é psicólogo, ex-aluno no Cesumar e historiador, ex-aluno na UEM.
Para saber mais:
GAY, Peter. Freud para historiadores. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KEHL, Maria Rita. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

2 de ago. de 2011

DELINQUÊNCIA E PSICOLOGIA: MUITO ALÉM DOS FATOS

Lorena Munhoz da Costa*
A delinquência faz parte de nossas vidas. Desperta sentimentos como raiva, medo, curiosidade e ansiedade. Nos noticiários, ela é a protagonista e está em grande parte das notícias. Discussões como a redução da maioridade penal causam polêmica e dividem a sociedade. Em nossas casas, priorizamos pela segurança, construímos muros altos e adotamos medidas que muitas vezes nos isolam e detém como prisioneiros. O psicólogo, diante dessa realidade, deve ter um olhar crítico e entender esse fenômeno em sua origem e complexidade, contribuindo com uma compreensão além do senso comum que condena o delinquente sem conhecer os reais motivos dos seus atos, logo, propõe medidas insuficientes para a sua “recuperação”.
Melman (1992), um importante psicanalista lacaniano, defende que a delinqüência é um sintoma social e pode, ou melhor, deve ser percebida a partir da análise das relações sociais e, não no âmbito concreto (real), como se o furto, por exemplo, tivesse como motivação essencial a riqueza ou o ganho financeiro. Na verdade, os atos cometidos pelos delinqüentes são quase sempre cobertos por significados, o objeto furtado não é o objeto real, mas o objeto simbólico cuja origem está nas relações do sujeito com o outro. 
Na história de vida dos infratores é comum percebermos conflitos relacionados à família, principalmente ao pai, principalmente, a existência de pais reais faltantes quanto à função simbólica de referência fálica para seu filho. A relação do delinqüente com seu objeto se funda na anulação do terceiro paterno, do pai real. Ao cometer o ato infracional, o delinqüente busca inconscientemente (e às vezes conscientemente) comprovar que o pai real é impotente e que nada pode fazer. Para ele, o pai foi faltante nos seus deveres para com ele. Alguma coisa no dever com relação a ele não foi cumprida e sua ação não faz senão responder a esta falta, esta omissão do Outro. A delinqüência se estabelece então, nesse caso, como uma competição (muitas vezes recíproca) para provar quem é o mais culpado, buscando atribuir a responsabilidade da falta (MELMAN, 1992).
O delinqüente não se percebe como um sujeito responsável por si e por seus atos, pelo contrário, atribui com freqüência a responsabilidade de seus atos a terceiros. Nesse sentido, é importante refletir e rever sobre o papel da sociedade nesses casos. Atualmente, utiliza-se um sistema de penalidades e detenções que muitas vezes pode colaborar com a manutenção e validação do processo da delinqüência.
Quando o poder é representado pela polícia dentro das estruturas reais da sociedade, o objeto que conta deixa de ser simbólico para tornar-se nada mais que um objeto real. O pai estará assim privado de todas as suas incidências simbólicas para valer somente em sua realidade e se encontrará desfigurado por representações que serão asseguradas pelas instâncias educativas, policiais ou judiciárias. Poderíamos fazer ainda a observação que certos delinqüentes, não todos, têm o sentimento de se realizarem como sujeitos somente na medida em que estão na prisão, na posição em que são agarrados pelo Outro, nesta apreensão deles mesmos, não mais simbólicos, mas real.
Diante da verificação de que a causa da delinqüência é falta de reconhecimento simbólico do pai (lei), é necessário percebermos “o declínio do Nome-do-Pai” em nossas estruturas sociais que se tornam cada vez mais reais em lugar de simbólicas. A delinquência, hoje, faz parte de nossos costumes e parece ter se tornado o modo mais banal da relação social, logo, configura-se em um sintoma social, do qual a psicologia e as demais ciências sociais devem se preocupar a fim colaborar para uma sociedade mais saudável.


* Lorena Munhoz da Costa é psicóloga e ex-aluna no Cesumar.
Para saber mais:
MELMAN, Charles. Alcoolismo, delinqüência, toxicomania: uma outra forma de gozar. São Paulo: Escuta, 1992. (O sexto lobo)